terça-feira, setembro 30, 2003

Excesso de civilidade

Poucas horas depois do post anterior, recebo um simpático e educado mail do secretário-geral do PNR, informando-me de que não mais importunarão o meu endereço. A terminar, felicita-me sem ironias pelo «excelente blogue»! Chiça: será que, tirando o dr. Alegre, já ninguém se indigna neste país?

Mata e esfola

De acordo com um «comunicado» que recebi, o Partido Nacional Renovador está ofendidíssimo com as posições do dr. Paulo Portas sobre imigração. Calma, não é bem isso: o PNR irritou-se porque o dr. Portas alegadamente apropriou-se do tema, quando, como toda a gente devia perceber, «o único partido que é contra a invasão de imigrantes e pelo repatriamento imediato de todos os clandestinos é [adivinhem] o Partido Nacional Renovador!» (sic).
Sinto-me esclarecido. Doravante, se o dr. Portas decidir propor a detenção sumária dos mendigos romenos, ou o envio para as Berlengas dos angolanos das obras, eu sei a quem atribuir a paternidade da ideia. Os senhores do PNR podem ficar descansados.
De caminho, aproveito para pedir-lhes, delicada, repetida e insistentemente: não me encham a caixa de correio com merda.

segunda-feira, setembro 29, 2003

Não nos calarão

O Origem do Amor revelou ontem a existência de uma série de ataques terroristas a este humilde blogue. Confesso que, afastado do computador por exigência conjugal, não dei por nada. Mas não me surpreende que, parafraseando o treinador de um qualquer Sanjoanense FC, o Homem a Dias esteja a ser incómodo para muita gente. Seja lá essa gente quem for. A fim de zelar pela verdade blogueira e, afinal, pelo futuro dos nossos filhos, proponho uma marcha, em passo acelerado, até à redacção do «Dna», cujo director deve estar, singelo contra dobrado, envolvido na vil ofensiva. Se não estiver, ouve à mesma. O Pedro Namora já aceitou participar, a dra. Odete declamará uma ode alusiva à liberdade e, estou certo, a blogosfera silenciosa abrirá uma excepção para pedir em altos berros os testículos do inimigo, ou um emprego na respectiva publicação. Infelizmente, o traje terá de ser informal: os fatos cedidos sábado por Roberto Leal, Raul Ouro Negro e 762 vendedores de gelados da Caparica ainda não voltaram da lavandaria.

Obituários e ideologia

O João Veríssimo escreveu-me isto na sexta. Segue com atraso, mas talvez não tenha perdido a pertinência, pelo que dispensa comentários. De resto, o tema da (im)parcialidade dos média, puxado por outros pretextos, já tem sido amplamente discutido na blogosfera.

«Morreu hoje José Manuel Casqueiro, soube-o através do noticiário das 10 na TSF. Casqueiro foi durante anos o secretário geral da CAP e a sua figura maior. Enfrentou o PREC com coragem e determinação, graças a ele a reforma agrária não passou do Alentejo. Em suma, foi um dos que fomentou a imensa revolta anónima que levou ao 25 de Novembro.
As pequenas linhas que mereceu na TSF seriam as mesmas se morresse, por exemplo, um líder sindical ou um obscuro lutador antifascista? Não faltava certamente o Manuel Alegre a declamar um poema.
Porquê esta dualidade?»

Ghost World & etc.

Afinal não estou sozinho. Para começar, escreve o J. (que eu não sei se quer ver publicado o nome por extenso):

«Para grande pena minha não pude ver o Ghost World (filme), mas estou com esperanças que saia numa das colecções de DVD com que a imprensa nos anda a tentar fisgar o dinheiro.
Mas li a BD que deu origem ao filme e juro categoricamente que é a melhor graphic novel da década de 90 e também um dos melhores livros publicados na altura. Tendo em conta que a adaptação para cinema foi feita pelo próprio Daniel Clowes não me surpreende que seja excelente.
Aliás, uma das lojas especializadas em BD do Porto rebaptizou-se em honra do livro.»

[Caro J.: esqueça as colecções e roube já o dvd; alugue-o e mostre um BI falso; peça emprestado a um amigo e perca um amigo. Quanto ao livro, sempre evitei ler, com medo de comparações - decerto infundadas, a julgar pelas entrevistas ao Daniel Clowes e ao Terry Zwigoff incluídas nos «extras» do filme. De passagem: não perca o outro filme de Zwigoff, o absolutamente singular (e angustiante) documentário (sobre Robert) «Crumb». Por fim, na loja no CC Brasília sou ocasional cliente de reedições do «Spirit» e do «Mad».]

E o Nelson Gonçalves (nenhum parentesco, julgo) informa:

«Eu também adorei o filme. E não conhecia a BD por detrás do filme, e
continuo sem conhecer. No entanto, mesmo após alguns dias depois de vê-lo ainda estava atordoado. E uma banda sonora do caneco! Melhor só se tivesse uma cena lésbica entre as protagonistas (estou a brincar, acho...). Quanto ao "Punch Drunk Love" para mal dos meus pecados ainda não tive hipótese de ver... Como sinto falta de ver bom cinema...»

[Caro Nelson: não comento as suas preferências eróticas em público, mas a banda sonora é de facto quase tão sublime quanto o filme, misturando «bollywood», Buzzcoks, blues do Delta e muito do melhor ragtime alguma vez executado. E, se não é indiscrição: onde raios você mora?]

Agora sobre o «Punch-Drunk Love», é a Rita Relvas quem diz:

«Não vi, já quis alugar mas não tenho dvd... Já pensei em começar a campanha: Ofereçam um Dvd à Rita este natal para ela poder ver o Punch-Drunk Love!
Conheço a história por ter o pequeno vicio de ler a sinopse dos filmes antes de os ver. E a minha melhor amiga (que por acaso já viu o filme...) aconselhou-me: - Fuma um charro antes do filme, um durante o filme e outro depois... Não sei se vou ver o filme envolta em qualquer fumo vindo directamente de Marraquexe... Sei que o verei e isso chega-me! Adoro o blog...»

[Cara Rita: em Marraquexe não tenho conhecimentos, mas olhe que os leitores de dvd estão assim a dar para o barato. Mais caros que a grama de haxixe, mas mais baratos, com certeza, que um bilhete dos Stones no mercado oficial. E olhe que, mesmo não sendo a minha especialidade, penso que o Adam Sandler é vastamente preferível a quatro múmias vestidas de cetim. No que toca ao blogue, obrigadinho.]

Novos blogues:

sábado, setembro 27, 2003

Eu

Hoje, no «Público», a fadista Mariza colocou a pergunta que se impunha:
- Quem não tem discos dos Rolling Stones?

Eyes wide open

Julgo que não me fiz entender ao Celso Martins. O que eu escrevi foi - justamente - que não uso misturar contabilidade com vidas humanas, e que, por uma vez, abriria uma excepção em prol do equilíbrio de argumentos. Certo? Quanto ao resto, o Celso disse quase tudo: a «sociedade militarizada» a que você se refere admite e incorpora sem grandes traumas a dissensão, já que também é democrática, aberta e tolerante. Virtudes algo problemáticas de encaixar na «outra» sociedade, por razões a que os israelitas serão, julgo, bastante alheios.
Sobre o ligeiro facto de não me conhecer, não se preocupe: a recíproca é verdadeira e não menos grave. Tenho muito gosto, portanto. E mande sempre.

sexta-feira, setembro 26, 2003

Eyeless in Gaza

Por razões diversas, que posso explicar depois, evito discutir o conflito israelo-árabe, muito menos fingindo uma equivalência moral entre ambas as partes que não consigo sentir nem compreender. Mas uma vez não são vezes. Ora bem: o Celso Martins acha que a pública desobediência de 25 oficiais israelitas, que recusaram atacar alvos palestinos, convirá ao processo (?) de paz no Médio Oriente. Se a ideia é o equilíbrio, eu tenho a impressão de que não basta: é preciso esperar que 25 - ou 15, ou 5 - destacados membros do Hamas ou das Brigadas de Al-Aqsa se revoltem contra os ataques a civis indiscriminados em Telavive ou em Jerusalém. O que seria, parafraseio, «um dardo ao coração da sociedade palestiniana e uma grande oportunidade para ultrapassar a lógica do terror que dita todas as suas últimas opções.» Parece-me é que vamos esperar sentados sobre cadáveres. Cá por coisas. Imensas coisas.

Susto fugaz

Por um instante, julguei que o Fumaças tinha acabado. Mas não.

Sem prognósticos

Descobri ontem uma classificação dos blogues nacionais. E constatei que o Homem a Dias consta do «top 25», quer em «inbound blogs» (20º), quer em «inbound links» (23º - qual a diferença?). É bom? É mau? Acho que é assim-assim. Se partirmos do princípio que os 18 primeiros constituem a Primeira Liga, o Homem a Dias é um dos diversos candidatos da Segunda à subida. No fundo, é a Naval ou a Ovarense dos blogues, pelo que me informei aqui. Esperam-se, contudo, muitas dificuldades: o orçamento é comparativamente baixo, os reforços são miragem, a SAD está em águas de bacalhau e a competitividade neste escalão é, como se sabe, enorme. O melhor é assumir que na corrente época se luta pela manutenção, que na próxima se tentará consolidar o estilo de jogo e que, a médio prazo, ou seja dois/três anos, se lutará enfim pelo convívio com os «grandes». Em suma, um projecto de futuro - a menos que entretanto os órgãos sociais se demitam em bloco.

P.S.: Revelador é o facto do Pipi não surgir na tabela. Informaram-me depois que aderiu à Liga Espanhola e que o prefácio do livro é do Valdano. Maldito profissionalismo.

«We graduated high school. How totally amazing.»

O Carlos também é devoto do «Punch-Drunk Love», e o Bruno vai no bom caminho. Deles, não se esperava outra coisa. Mas, de passagem, pergunto: existe alguém, nesta blogosfera de Deus, que venere, irredutível, fanática e persistentemente o «Ghost World»? É que, em qualquer das 254 ocasiões em que lhes pedi a opinião sobre a fita, os meus amigos responderam-me com «Tá porreiro...» ou «Impecável, mas gostei mais do Beleza Americana».
Porreiro, impecável? «Beleza Americana» o raio que os parta. O máximo que consegui foi um «É do caralho», obviamente do João, e mesmo assim não estou satisfeito. Quero mais: às vezes, ser membro de um culto solitário cansa. Dízimos para o e-mail acima, sff.

quinta-feira, setembro 25, 2003

O blogue segue dentro de momentos

Embora aqui também fique bem servido.

Intervalo publicitário

Você não percebe nada dos avanços e recuos jurídicos da novela Casa Pia? Não? E tem pena? Faça como eu: vá, com frequência, aqui. Mesmo no nebuloso universo do Direito, ainda há gente que pensa e escreve em português.

quarta-feira, setembro 24, 2003

Safa!

Dadas as circunstâncias da insularidade, andei uns dias com os jornais em falta. Por isso cheguei um nadinha atrasado à polémica que o Intermitente e o Comprometido Espectador - pelo menos - comentam. Mas cheguei com a vantagem da experiência: há uns meses, no CM, eu próprio identifiquei, sem excepção, as organizações de homossexuais com o BE e, em troca, recebi uma carta (justamente) indignada do sr. António Serzedelo, presidente da Opus Gay, que me esclareceu acerca das trapalhadas que a recorrente confusão tem suscitado. Depressa o incidente ficou, como se diz, sanado: o sr. Serzedelo sabe que eu não gosto de grupos de pressão e eu sei que ele não gosta das manipulações do BE. Óptimo.
Ontem, porém, o sr. Serzedelo voltou a escrever-me com as actualizações do caso e, embora agradecendo a atenção, hesito em opinar. A não ser para insistir no que reconheci da primeira vez: se é verdade que 10% dos portugueses adultos são gays, no mínimo dois terços dos gays não votam BE (abstenção à parte). E isto considerando que todos os eleitores do BE são gays. Como até esta interpretação será, talvez, abusiva, é lícito supor que os grupos, grupelhos e aparentados que o BE cultiva no meio sejam apenas representativos de umas dúzias de gatos pingados, que se procriam (sem trocadilho) de modo a parecerem imensos. Vistas bem as coisas, a dona Fabíola, chefe do Safo, é capaz de representar somente a dona Fabíola. E mesmo assim, diz quem já viu e ouviu a senhora, a custo.

Pelo Scottex é que vamos

Ao contrário do Bruno Alves, eu estou de alma e coração com a criançada que sequestrou o Conselho Directivo da FCUNL por meio de 3 mil rolos de papel higiénico. Ponho-me na pele dos moços: de facto, deve ser irritante pagar propinas académicas e constatar, dia após dia, ano após ano, que a nossa educação, imaginação, bom senso, são, para além de residuais, uma valente merda.

Granja & Namora

Estas duas personagens que a história da Casa Pia revelou lembram duos famosos do género «Tom & Jerry» ou «Itchy & Scratchy» (dos Simpsons). No aspecto (um é pequenino e ladino; o outro calmeirão e algo lento), e no enredo (começam por ser amiguinhos e, quando menos se espera, desatam à paulada mútua).
Porém, em vez de falarmos em plágio e abrirmos outro interminável processo, é motivo de júbilo que o nome Granja esteja associado, enfim, à animação de estilo americano. Certo que os protagonistas são comunas, mas divertem muito mais que aquelas porcarias checas e húngaras com que o camaradinha Vasco nos traumatizava a infância.

Punch-Drunk Sandler

Dizem-me que chegou aos clubes de vídeo o «Punch-Drunk Love». Talvez venha a escrever mais demoradamente sobre a fita. Agora limito-me a proclamar que em 2003 não vi filme que lhe chegasse aos calcanhares - e só não é o meu favorito deste incipiente século porque «Ghost World», naturalmente, não deixa.
Não sei é se «Punch-Drunk Love» vale por si ou pela interpretação genial de Adam Sandler, que a crítica (não apenas a nossa) julgou ser mérito do P. T. Anderson, tipo Tarantino-ensina-Travolta-e-o-imbecil-até-se-safa. Tudo bem: cada um engole os Malkoviches e os Hopkins que lhe aprouver, e a separação entre «actores» e «comediantes» é, no mínimo, engraçada. Mas, como dizia o Jerry Seinfeld em lendária entrevista à Vanity Fair, qualquer Greg Kinnear salta da stand-up comedy para um filme e envergonha o Jack Nicholson (embora, calminha, a stand-up não seja o «Levanta-te e Ri»: com o Fernando Rocha e afins, nós é que saímos envergonhados).

Deus queira

Caríssimo: já voltei e já soube do João Gilberto. E, mesmo sendo tão ateu quanto o padre da Lixa, orar é o que mais tenho feito. Mas sabe de uma coisa? Desta vez acho que o homem vem. É cá uma crença, um palpite, uma fezada. E é cá um medo, também...

terça-feira, setembro 23, 2003

É num porto italiano...

O Ricardo Esteves Correia interroga-se sobre o final do «Marco», a série televisiva que marcou uma geração. Caro Ricardo, não o saberei esclarecer acerca da produção japonesa, que para mim foi apenas uma insignificância que sucedeu à «Heidi» (a «Heidi» é que era!). Mas posso assegurá-lo de que, na origem, a odisseia do Marco surgiu em «Cuore», romance do italiano Edmondo d’Amicis. No dia em que terminei a «primária», esse foi o livro que eu e todos os meus colegas recebemos das mãos da professora, a título de prémio.
Com grande pena minha, já não tenho o volume em causa, mas li-o e reli-o o suficiente para me lembrar que narrava um ano lectivo numa escola do sul de Itália, salvo o erro em Nápoles. De x em x capítulos, ou a cada mês da narrativa, o professor contava uma historieta aos rapazes, sempre sobre um qualquer rapaz como eles, sempre reveladora da respectiva coragem. Uma dessas histórias, «Dos Apeninos aos Andes», era justamente a de Marco. Prepare-se agora: se a memória não me trai, quando o menino localiza a mãe, a senhora acabara de morrer. De saudade. E do futuro de Marco nada ficámos a saber. Piegas? «Coração» é um livro piegas, triste e muito, muito bonito. (Há também um filme, com a Cláudia Cardinale em papel «sério», e que se vê sem custo.)

Nação valente

«Todos podem participar no combate por Portugal! Adere ao PNR, o Partido de Portugal!».

Pois é, pelos vistos entrei na mailing list de uma coisa chamada Partido Nacional Renovador. Quanto a isso, salvo alguma artimanha informática que ignoro, não posso fazer nada. Mas, por mais mails que me enviem, garanto aos senhores do PNR que:

1) Não participo em combates;
2) Não sei o que é nem onde decorre o «combate por Portugal»;
3) Mesmo que mo indiquem, não tenciono passar por lá;
4) Não «adiro» a partidos;
5) Gosto de viver no presente regime.

A terminar, um conselho: o PNR devia canalizar as respectivas mensagens para a rapaziada que partilha com eles o ódio à democracia. Logo que descubra os endereços dos drs. Manuel Alegre e Boaventura S.S., eu mando.

segunda-feira, setembro 22, 2003

Side effects

O Blogame Mucho aconselha-me Xanax (e não Lexotan) para as viagens aéreas. Se acompanhado de whisky, tratar-se-ia do método Martin Amis, uma sugestão que agradeço e em cujos resultados confio. Mas hesito em experimentar. Um antigo compincha meu, trinta e tais, casado, viciou-se em Xanax há uns anos, e desde então vive fechado no quarto, a fitar o computador. Ainda por cima, que eu saiba, não tem a atenuante de possuir um blogue. Não: ele «desfragmenta» o disco duro, ele faz «partições», ele executa «up-grades», ele é, tecnicamente, um pelintra. Um pelintra que não ganha a vida, não escreve o «Money» nem frequenta aviões. Mas que assusta, assusta.

Merda filosofal

O Ouvido de Barman acusa-me de recolher inspiração no Herman e, consequentemente, desiludi-lo. Meu caro: embora de modo não deliberado, sucede-me desiludir pessoas de quando em quando; agora, inspirar-me no Herman, isso nunca ninguém tivera a crueldade de sugerir. Ainda que o meu cabelo esteja mais claro (vá lá saber-se porquê), a única inspiração televisiva que reconheço é a do saudoso especialista em gramática do «Acontece» - o sr. Comodisse.
E, de resto, julgo que você exagera. Desilusão mesmo é uma pessoa festejar como um doido a eleição de Manuel Freire para a presidência da SPA - e depois ler algures que o homem não tenciona deixar as cantorias.

À atenção dos ecologistas

S. Miguel - que, insisto, é lindíssimo - está em perigo. Em cada uma das inúmeras e recentes rotundas (já de si um arrepiante sinal da «modernidade»), há cartazes do PS e do PSD com declarações de amor à devastação imobiliária e ao alcatrão das estradas. Os «rosas» proclamam ter concretizado não sei quantos edifícios e um sem número de rodovias; os «laranjas» acham que é pouco e prometem acelerar a chacina. Subjacente a isto, paira a ideia de «progresso». Progresso? Virgem Santíssima: a Irlanda, a outra «ilha verde», um caso de desenvolvimento fulgurante que o dr. Durão costumava esgrimir por tudo e por nada, mantém a maioria das suas cidadezinhas (quase) imaculadas e possui uma rede viária admissível em 1930. Não há, pois, possibilidade de escorraçar os autarcas e os construtores civis de S. Miguel para Massamá ou para Gondomar? Há que respeitar o habitat específico de cada espécie animal.

Cartas ao director

Aurora escreve:

«Vivi dois anos nos Açores. Um deles em S. Miguel.
Os Açores não deixam saudades.
Deixam uma pontada no coração. Saudades de doer.»

Depois, com inexcedível amabilidade, Nuno Barata oferece-se para adicionais esclarecimentos açorianos. Muito obrigado.
Luís Alberto Malhó de Sousa recomenda-me restaurantes de Ponta Delgada. Muito obrigado também. Quanto aos jornais, confesso que, tirando o «CM», tenho-os encontrado bem antes das oito da noite, ao contrário do que o Luís refere: lá pela hora de almoço, o «Público» e o «DN» começam a espreitar nas vitrines dos quiosques. Já o «Independente» só chegou no Sábado. O «Expresso»? Não sei. Por justa determinação do ministério do Ambiente, esse produto só pode ser vendido de forma dissimulada. E eu não costumo chafurdar nos sacos que encontro.

sábado, setembro 20, 2003

O post possível

Logo vi. Afinal, o que a propaganda do hotel queria dizer com «internet nos quartos» referia-se à existência de uma tomada telefónica. O que não é de particular utilidade na ausência de alguma coisa que se ligue nela. Donde me encontro na livraria Solmar, sita no centro comercial homónimo, a escrevinhar um post manhoso, somente para justificar o nobre e digno conceito de blogue.
Nota curiosa: exactamente no momento em que escrevo isto, ciranda em minha volta o dr. Mota Amaral, segunda figura da nação, que já leu parte de um livrito da secção «novidades», já conversou com um fulano acerca de pesca submarina e que, ou muito me engano, ou prepara-se para abandonar o estabelecimento sem qualquer aquisição.
De resto, Ponta Delgada é precisamente o único ponto mais ou menos irrelevante numa ilha linda de morrer. Na cidade, ainda há vestígios de um passado pré-municipalismo democrático, mas não prometem vida longa. É da praxe: como em Trás-os-Montes, no Alentejo e, a espaços, nas Beiras, as razões do encanto confundem-se com as causas do atraso.
E agora vou almoçar às furnas.

quinta-feira, setembro 18, 2003

Postal aberto ao dr. Jorge Sampaio

Leio que V. Exa., abaixo mencionado, prefere a Sata à Tap na maioria das viagens a que o ilustre cargo o obriga. Segundo consta, as razões são financeiras, o que apenas abona em favor de V. Exa., sempre preocupado com os desequilíbrios orçamentais. Assim, e lamentando com amargura nunca ter prendado V. Exa. com o meu voto, venho por este humilde meio informá-lo que o subido exemplo me marcou e que já alterei o meu bilhete para Ponta Delgada. Ia de Tap, vou de Sata. Além de incentivar a poupança (no caso a minha), esta simpática companhia, segundo pude constatar, disponibiliza «ementas à escolha, vinhos, queijos e doçaria regional. Já houve voos em que se ofereceram aos passageiros charutos e licor de maracujá, tudo made in Açores». Que categoria! Estou siderado: V. Exa. não só é frugal como revela bom gosto. Eis os requisitos de um verdadeiro Presidente.
Aos senhores da Sata, agradeço antecipadamente o charuto. Quanto a V. Exa., aceite (duplos) parabéns deste seu recente admirador,
Alberto Gonçalves

Lexotan

O maior amigo do cobarde aerotransportado.

Fugas

O Homem a Dias segue dentro de horas para os Açores. Em princípio, a labuta prosseguirá sem interrupções de monta, já que o site do hotel garante existir internet no quarto. Mas se o acesso for ainda mais lento que o do Nokia Communicator, esqueçam.
A propósito, um abraço para o Luis Filipe Borges, que há uns tempos me forneceu preciosas dicas sobre S. Miguel e a Terceira.

Parabéns, pois

Para a Charlotte, que sopra as velinhas no dia de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República. Honra dele.

quarta-feira, setembro 17, 2003

Mudando de assunto

O Comprometido Espectador voltou. Que esperais, ó néscios?

E já entrou em processo de catarse

Escreve Mestre JHF:

«Não vale a pena ter um site na Internet se ele está mal feito e propaga o lixo. Já existe muito lixo na Internet.»

JHF rules

Diz-me o Whisky 2000:

(...) deixe-me dar-lhe uma palavra acerca do joaohugofaria.
Foi através do link no mais recente post seu que lá fui parar. Já conhecia o muitomentiroso (ou ainda o antidireitaportuguesa), mas este senhor destaca-se pela suposta profisionalidade dos posts e das máximas. Enfim, não é tanto um "mentiroso assumido" como os dois acima mencionados, mas antes uma espécie de profeta que se entende como o messias.
Se não estamos perante o melhor embuste na blogosefera desde a criação do Causa Nossa, estamos perante um ligeiramente lunático ser.
Enfim, como diz a minha avó: "Internet? Isso é só malucos".

E o Francisco Mexia Alves, que desencadeou isto tudo:

(...) temo que não haja nada a fazer. O homem será louco (?), mas é um génio em matérias de informática, como já deu para ver. É sobretudo muito hilariante, mesmo. Não consigo sequer perceber se há ou não uma má interpretação da nossa parte.
Mas, rejubilemos, porque blogs destes só trazem animação à blogosfera, sobretudo nestes dias de canícula.

Já a Charlotte, que baptizou o Cromo, em mail que me escuso de trazer a público confessou-se destroçada pela perda do título de melhor blogue. Prometi-lhe uma reunião de emergência do júri, e a ver vamos.

terça-feira, setembro 16, 2003

Eu avisei

Dei conta há minutos do meu estado de hilaridade. Constato agora que o maradona sucumbiu ao mesmo.

Pedido de auxílio urgente

Volto à carga. Pelo amor de Deus, alguém me ajude a compreender se estamos perante o maior monumento do humor nacional ou se, depois dos criminosos terem entrado na blogosfera, chegou a altura dos executivos dementes.
Desesperado, deixo mais pistas para possível análise (mas vale a pena ler tudo):

«Um bom colaborador nota-se logo pela aparência. Por exemplo, se é preto, usa cabelo comprido, brinco na orelha, barba por fazer, veste-se de gangas ou cheira mal, então posso desde já afirmar que não serve.
Não perca tempo com este individuo (sic) e passe ao próximo. (...) A questão do preto exige uma explicação. Eu não sou rascista (sic). (...) Em relação a outras raças, não posso comentar, pois lamento informar não ter experiência no assunto. Pode ser que algum dia possa experimentar um Japones (sic).»

e:

«Prometi que voltava para vos falar de backups e cá estou. Não me lembro agora o nome do melhor programa para fazer backups, mas voltarei e mencionarei-o (sic, doce sic) nesta coluna. (...) Hoje utilizamos CD's e DVD's (ainda mais recente que o CD) para fazer os nossos backups. Estes são discos opticos que funcionam por mecanismos de raios lazer (sic), pelo que devemos ter cuidado e nunca olhar para o disco quando está a gravar pois podemos danificar os olhos. (...)
Devemos fazer 2 cópias de cada disco rígido: Uma fica em Lisboa e a outra devemos envia-la (sic) para o Porto, ou no caso de se tratar de uma multinacional, podemos envia-la (sic) para outro país.
Existem multinacionais em Portugal que enviam cópias dos backups para Espanha, o que eu pessoalmente desaconce-lho (sic, fabuloso sic) muito. Se existir um tremor de terra, convém que a segunda cópia se encontre pelo menos a 5000 kilometros (sic), como sugerem estudos vários.»

Leio e releio isto e não consigo parar de rir. Mas temo que exista uma má interpretação da minha parte. Ajudem-me, por favor.

Um génio é um génio. Um imbecil é diferente

Através desta indicação cheguei aqui, ao mais recente e melhor blogue nacional (desculpe, Charlotte). Fica um aperitivo:

«Um grande sistema é um grande sistema. Um pequeno sistema é diferente (...)»

A menos, esperem lá, que o moço esteja a falar a sério.

E vou comprar a t-shirt do «Che»

Cansado da polémica Fidel vs. Pinochet, rendo-me. Cuba ganhou. O Fidel, concede-se, é a espaços irritadiço, mas no essencial fez daquilo um modelo de progresso e justiça social. Apesar do embargo - e não do «embargo», como alguns fascistas insistem com fascistóide frequência. Aceito a vitória da revolução. Juro. Respeito o decreto que estabeleceu o carácter eterno do socialismo na ilha. Acredito que os 99% das urnas são a ratificação espontânea de um chefe benévolo e uma realidade feliz.
Nunca estive em Cuba, mas já a sobrevoei a média altitude e, com relativo esforço, pude constatar que as pessoas dançavam nas ruas até desmaiarem de felicidade. Mesmo a grande distância, distingui um grupo de jovens na praia, ocupados em construir uma vistosa jangada para os momentos de lazer. À passagem do avião, os jovens voltaram-se para o alto, e pareceu-me que nos olhavam - a mim e aos demais passageiros da Iberia - com pena, pena dos nossos miseráveis índices de desenvolvimento humano, das nossas listas de espera hospitalar, das nossas taxas de iliteracia, dos nossos carros repugnantemente «modernos», dos nossos constrangimentos sexuais.
Se isto não bastasse, a minha cunhada visitou o país variada e detalhadamente e desembarcou na Portela com o paraíso nos olhos. O facto de ela ser activista da CGTP não teve, estou certo, nada a ver com o assunto: o êxtase não se finge. Ok, finge-se, mas ela não é dessas.

Fusos

Enquanto escrevo isto, o Fórum da Tsf está repleto de gente indignada. Bem, essa é a regra, só que desta vez a indignação deve-se à mudança da hora, que o Governo decidiu afinar por padrões mais chiques e europeus. A fim de justificar a ira, os ouvintes da estação invocam «as crianças». As crianças? O que se passa com o raio das crianças? Quando o prof. Cavaco patrioticamente adiantou a hora, há uma década atrás, eu próprio era uma criança de vinte e poucos anitos. E, embora a infância tenda a distorcer e alindar as memórias, recordo-me com saudade das aulas de Ordenamento do Território, às oito e meia da manhã, que se iniciavam noite funda e terminavam com o nascer do sol. É uma experiência rara, que os petizes de hoje têm todo o direito de usufruir. Por mim falo: nunca, como nesses tempos de breu matinal e brancas noites, me senti tão civilizado, tão europeu, tão sueco. O pior é se nos dá para esfaquear o dr. Martins da Cruz e rejeitar o euro. Na minha meninice, tais hipóteses não se colocavam.

segunda-feira, setembro 15, 2003

Hã?

Vá lá saber-se a razão, o Blogame Mucho decidiu que o meu post sobre o Johnny Cash (o Johnny Nash é outro) foi uma tentativa de caluniar a blogosfera em peso, quiçá a humanidade. Lancei-me ao post em causa, analisei-o, autopsiei-o de ponta a ponta e, francamente, acho que nunca vi tão desconchavado pretexto para uma polémica. E olhem que o Blogame Mucho até costuma ser equilibrado e bom.

O cabrão do macaco da Indochina

O «Público» revela que Kumba Ialá, o deposto líder guineense, é licenciado em filosofia e teologia, fala crioulo, português, espanhol, francês e inglês, e domina até um ponto não especificado o latim, o grego e o hebraico. Tudo bem, mas quem leu os «Pensamentos» do ex-presidente, publicados em Janeiro último, sabe que uma obra daquelas não dispensa também fundos conhecimentos de estética, biologia, economia (micro e macro), geografia (humana e física), antropologia, etnologia e psicologia social. Mínimo. Para cúmulo, o sr. Ialá tem o dom de irritar o dr. Soares e usa um gorro que o transforma numa réplica bastante razoável do Peninha, primo do Donald, factores que só abonam em seu favor. Espero que a junta militar o trate com decência. No vasto panorama de tiranetes africanos, o sr. Ialá era o único que me fazia rir. Literal e genuinamente.

Obrigado, Mata Mouros

Os agradecimentos são devidos; a distinção exagerada.

Ofender não ofende?

Não tenho nem nunca tive o mínimo interesse pelo «caso» de Olivença. Tanto nas crónicas do CM como aqui no blogue já ocasionalmente brinquei com Olivença e com o respectivo Grupo de Amigos de um modo que, de acordo com padrões medianos de sensibilidade, não será exagerado considerar ofensivo. É por isso que estranhei receber o seguinte mail:

«Caro Sr. Alberto Gonçalves

Li o post que, a propósito dos «Amigos de Olivença», publicou no «Homem a Dias» (infra).
O endereço electrónico albertog@netcabo.pt foi colocado na «lista de correio» do GAO por mim, coisa que me atrevi a fazer após conhecer as suas crónicas - nomeadamente no CM - e por admitir que teria alguma curiosidade - meramente intelectual, claro - pelas modestamente «copiosas» iniciativas do GAO.
O Sr. considera tal facto como sendo efeito de uma «ideia» (?) causada (como «represália»?) pela crónica que publicou «há meses» no CM. Está equivocado: o GAO não ficou - nem tinha que ficar - incomodado por tal crónica (eu, pessoalmente, apreciei-a).
Mas está no seu direito de não querer ouvir falar «de Olivença».
O que me deixa admirado: tinha para mim que o conhecimento de outras experiências, testemunhos e entendimentos - muito mais sobre o «caso de Olivença» que, há-de concordar, não deixa de suscitar uma leitura pouco benévola de «Portugal e a sua circunstância» - teria para si, enquanto comentador da realidade portuguesa, algum interesse.
Não é assim? que importa! não será por isso que deixarei de ler e tentar conhecer o seu testemunho e entendimento, no Homem a Dias ou no Correio da Manhã.

Com os melhores cumprimentos,
António Marques

PS: respondo-lhe pelo meu e-mail pessoal já que a razão de ser deste esclarecimento nada tem a ver com o GAO (de que sou, actualmente, presidente da Direcção. Pode conhecer mais em: www.olivenca.org ).»

Insisto: não me converti à causa. Mas perante tamanhos «fair play», decência e educação, o que me resta além deste impertinente embaraço? Há circunstâncias em que apetece mais um insulto que um afago.

sábado, setembro 13, 2003

O Bertoldo responde ao Jorgito

Eu bem avisei que certa esquerda se enerva demasiado com Cuba. O Cruzes Canhoto respondeu-me furiosamente a uma insignificância que deixei aqui em baixo e até um reles «(sic)» serviu à pancadaria.
Verdade que, para atenuar o desforço, o pessoal começa por divagar em torno do conceito de «insulto», julgando que eu me ofendo com facilidade - assim tipo Fidel. Aos poucos, porém, a coisa descamba para o azedo. Renovo os pedidos de calma.
Em primeiro lugar, justifica-se comparar as ditaduras cubana e chilena - apenas na medida em que uma é referência de virtude para a esquerda (mesmo para a esquerda que condena as prisões e execuções), e a outra um modelo de iniquidade sem remissão. Aliás, dizer, insinuar, pensar que Fidel é muito, bastante ou um bocadinho preferível a Pinochet já constitui tecnicamente uma comparação, desculpem lá. Nesta matéria, a direita - que eu, a propósito, não represento - não foi pioneira.
Quanto às estatísticas, apreciei a rapidez, mas, salvo nova gralha, custou-me detectar a prometida superioridade cubana face ao Chile. Isto sem querer ser duplamente chato e perguntar o que fazem os milhares de médicos de Cuba desprovidos de um módico de tecnologia capaz; como se usa a elevada taxa de literacia num país sem liberdade de expressão; que significado têm as percentagens das despesas com educação e saúde se remetem para um PIB quase oito vezes inferior ao chileno (e uma população relativamente similar), etc.
Também não é bonito explicar a ausência de grandes diferenças nestes critérios (nos outros...) com os últimos dez anos de democracia chilena, já que, passe a excepção experimental do dr. Allende, há algumas décadas que o Chile verifica subidas constantes e até notáveis nos diversos índices de desenvolvimento humano - principalmente, não querem lá ver, desde Pinochet. Os dados estão disponíveis na OMS, Unicef e demais sítios do costume.
Por fim, acho estranho que um blogue de esquerda compare regimes ditatoriais com uma democracia, no caso a portuguesa. Além de ser, essa sim, uma equivalência bizarra, é igualmente, e no mínimo, um insulto à memória de (corações ao alto) Abril. Ou um genuíno lamento por Abril não ter gerado uma outra Cuba, mas isso não é comigo.
Sem ressentimentos, caros canhotos. Deixo-vos, em tom descontraído, com o lendário mote de Ernesto Guevara, vulgo o «Che» das bandeirinhas, à época presidente do Banco Nacional de Cuba:

«Tenemos un país para experimentar; nos equivocamos pero seguiremos experimentando, hasta que aprendamos.»

Eu bem avisei que certa esquerda tem paciência de santo. E agora, malta, toca a procurar as gralhas.

Aquela janela virada para o rio

Via blogue ou via mail, o Nuno P. tem o desgraçado hábito de colocar questões pertinentes. Tão pertinentes que nunca consigo arranjar tempo para me dedicar a respondê-las. Fica, porém, a garantia de que a «Política e Religião» está em carteira.
Quanto aos programas da Tsf, o tema empolga um bocadinho menos. Ainda assim, escolho, se posso fazê-lo a partir daqui, o «Bancada Central», como suponho chamar-se aquele debate nocturno e diário sobre a bola. Apenas porque me intriga o discurso inflamado e (para mim) incompreensível dos participantes. E porque foi lá que, esta semana, ouvi um sujeito dissertar durante quinze minutos acerca de foras-de-jogo, pénaltis e etc. - até que finalmente nos garantiu ser cego de nascença. Para quem suporta humor (muito) negro, não conheço melhor. E aproveito para mandar um grande abraço ao «sr. Fernando Correia».

E obrigadinho pela escova

Certa esquerda, coitada, tem paciência de santo. Sucede que a beatitude termina exactamente onde as praias de Cuba começam. Mal tocamos em Fidel - e, por arrasto, na memória do «Che», o novo ícone das feiras e romarias portuguesas -, a malta abespinha-se. Comparar Cuba ao Chile? É pecado. Fidel a Pinochet? Demagogia de «fachos». Sobre o postzito que dediquei ao tema, gostei sobretudo da reacção desta rapaziada, que fingiu não perceber o respectivo sentido para assim melhor me insultar.
Calma, pessoal: vocês sabem que eu sei que vocês sabem que eu não acho as ditaduras de esquerda «preferíveis» (?) às de direita. Apenas disse, e repito, que nos casos cubano e chileno, o primeiro cumpriu (e continua a cumprir) de modo muito mais eficaz os objectivos de um regime totalitário. De resto, aguardo evidências, com base em estatísticas sérias e não em lendas, de até que ponto «a assistência médica, o nível de literacia, a garantia dos (sic) nível de vida minimamente condigno e outros pormenores sem relevância» são tão superiores em Cuba. Não tenham pressa: embora «facho», também sou paciente.

sexta-feira, setembro 12, 2003

Johnny Cash (1932 - 2003)

No nosso tempo, há um estranho pudor em reconhecer que se tem heróis. Eu tive dezenas, restam-me uns tantos. Entre eles Johnny Cash, 71 anos, norte-americano, cantor e compositor de «Delia’s Gone», «I Still Miss Someone»» e «Walls of a Prison» (que bem conheceu). Estava doente há muito, e os discos finais, desde o prodigioso «American Recordings», são um confronto obsceno e desigual da redenção com o desespero. Há meses, perdera a mulher, June Carter. O seu principal sucesso, «I Walk the Line», arrancava com o verso I keep a close watch on this heart of mine, princípio a que, em inúmeros sentidos, raras vezes obedeceu. Até hoje.

«A pobreza, a solidariedade; a desumanização, o capitalismo selvagem...»

Depois do Jerry Springer, depois do Big Brother, depois do noticiário da Tvi, muitos de nós interrogávamo-nos para que abismos a televisão empurraria a degradação humana. No serão de hoje, a Sic Notícias tentou uma resposta. Sem sombra de pudor, o «Duelos Imprevistos» juntou o actual dr. Soares com Pacheco Pereira. Para cúmulo, o tema em «debate» - o 11 de Setembro e o terrorismo - exigia argumentação, conhecimento, um módico de lucidez. Foi o espectáculo que se viu. Não se humilha assim ninguém, muito menos um homem que até chegou a presidente da República e que, há umas décadas, usufruiu de merecido prestígio.

quinta-feira, setembro 11, 2003

O outro 11 de Setembro

Algumas diferenças entre o Chile de Pinochet e a Cuba de Fidel:

1) O número de assassínios (vantagem cubana, dez vezes superior);
2) A duração das ditaduras (vantagem cubana, duas vezes e meio superior - por enquanto);
3) As consequências económicas e sociais (vantagem chilena, não mensurável);
4) A relativa posição dos EUA (empate, a decidir segundo o gosto pessoal);
5) O merchandising (vantagem cubana, sobretudo graças às t-shirts do «Che»);
6) Os líderes depostos (vantagem para Cuba: Baptista, embora tão mentiroso e palerma quanto o sr. dr., não fora eleito);
7) O impulso ao sector naval (vantagem para Cuba, principalmente no que respeita à ancestral arte da construção de jangadas);
8) A hospitalidade (vantagem dos cubanos, que ainda hoje não largam os turistas);
9) A banda-sonora (vantagem para Cuba: até eu, que não aprecio salsa, não comparo Célia Cruz com Victor Jara);
10) O aspecto dos ditadores (vantagem, apesar de tudo, para o Chile);
11) A gastronomia (distanciada vantagem chilena: o Luís Represas nunca abriu um restaurante em Santiago).

A revolução socialista, portanto, dá uma goleada monumental à revolução de direita. Ganhou a melhor, o resultado não deixa margem para dúvidas. Pinochet ficou pelo caminho; Fidel segue em frente. A este nível não se admite hesitações, e os referendos, por exemplo, pagam-se caro. Já se sabe: a prática torcionária é mesmo assim. E não é para qualquer um.

O nosso homem em Newark

Eu ainda sou do tempo em que o Ilídio Martins dedicava um bocadinho do seu site pessoal ao top dos colunistas portugueses (infelizmente acabou, não sei porquê). Desde essa altura que o leio, atenção que redobrou a partir de um certo dia de que hoje se assinala o segundo aniversário, quando, na era pré-blogues, o Ilídio fornecia das raras opiniões não «relativistas», em português, sobre o sucedido. Também por isso, congratulo-me que a pseudo-polémica em volta do tal Sepúlveda tenha dado em nada (brincadeiras à parte, acredite mesmo que eu não uso confundir a obra com o carácter do autor). Entre pessoas civilizadas, é quase sempre assim.

Blogues frescos

Mandam-me directamente notícias de novos (e menos novos) blogues: Barnabé, De Tudo Um Pouco, Montra de Prémios, Tanakas. Ainda não vi (o tempo não dá para tudo), mas passo a mensagem.

quarta-feira, setembro 10, 2003

O «especialista»

Mesmo em conflitos como o do Médio Oriente, em que tenho mais certezas do que dúvidas, gosto de ouvir o outro lado da barricada. Por isso, e a propósito do novo, digamos, primeiro-ministro Ahmed Qorei, escutei com curiosidade as palavras, necessariamente parciais, do embaixador da Autoridade Palestiniana em Portugal. Pena que a Tsf se engane sempre, sempre, sempre na designação do cargo do sr. José Goulão. Está visto: embirraram com o homem. Se não há aqui dedo da conspiração sionista, parece.

Pauvre France

Foi o Silhuetas que me alertou para o evento. Na próxima segunda-feira, em Paris, Yoko Ono desenvolverá uma «performance» que terminará com a artista em pelota. O objectivo do exercício, ao que consta, é a promoção da paz. Sendo este um valor que se deseja universal, auguremos o maior dos sucessos, ainda que a terapia de choque seja um método altamente discutível. Guardo, porém, outras reservas, decerto partilhadas por quem se recorda da nudez da senhora na capa do «Two Virgins». Na altura, Yoko Ono contava 35 anos. Hoje, vai no dobro. Se calhar, há tragédias piores do que a guerra.

Turismo de risco

Com notável antecedência face aos nossos representantes na Cimeira, há mais ou menos um ano eu dei por mim em Cancún (o dr. Pina Moura escreve «Cancum» e faz muito bem). Dado estar em trânsito para outro lugar, a visita durou apenas umas horas, mas permitiu-me algumas conclusões. Entre as quais a de que os deputados portugueses, que se acotovelam regularmente em Vilamoura e desenvolvem todos os malabarismos para ver um jogo da bola sob os 40º de Sevilha, têm no mínimo uma ideia peculiar de lazer. E, note-se, eu não tive de aturar o ruído nem o cheiro dos «manifestantes» anti-globalização.

Polémica inventada

Ao Ilídio Martins não «parece correcto» que se misture «o homem com a obra», no caso o sr. Sepúlveda (ver abaixo) com os respectivos livritos. Por mim, e embora ache que o tema dá pano para mangas, devo confessar que concordo inteiramente. Donde não perceba a origem da reprimenda que o Ilídio me faz: a menos que esteja maluco, em lugar nenhum pretendi confundir o sr. Sepúlveda, chileno, cidadão do mundo, comunista e, a acreditar no que diz, um monumento ao disparate, com os romances produzidos pelo mesmo, que eu nunca li e de certeza não gostei.

Polémica acabada

Para os que agitam o fantasma da «direita caceteira» mal avistam uma camisa azul, o Pedro Guedes é uma desilusão. Além de educadíssimo e civilizado, topou logo a referência ao António Sardinha. Já agora, Pedro, digo-lhe que «O Valor da Raça» foi o título fixo da minha primeira coluna jornalística, há uns oito anos, num jornal aqui de Matosinhos. Mesmo na altura, porém, a designação pretendia ser irónica: se conhecer, como eu penso que conhece, o percurso do Sardinha, perceberá porquê.

terça-feira, setembro 09, 2003

Era um churchill e um napoléon, s.f.f.

Eu sou muito mais Camel que Cohiba. Mas o Fumaças, do João Carvalho Fernandes, é um site dos puros, suave, a pedir visita demorada e com um aroma afrancesado que, no caso, se revela bastante agradável. Para cúmulo, demonstra inequívoco bom gosto, ao eleger o Homem a Dias como um dos (blogues) «imprescindíveis do momento». O Fumaças deve fazer-se acompanhar por cognac velho, com nota de baunilha e aroma floral.

O valor da raça

Agradeço ao Pedro Guedes os elogios que o Homem a Dias lhe suscita. Também aproveito para esclarecer que a generalização que eu fiz dos famosos blogues «fascistas», se excessiva, deveu-se em boa medida aos links que os ditos blogues (incluindo o Último Reduto) ostentam: uma referência declarada vale por inúmeras posições explícitas.
Sobre o António Botto, logicamente não há nada a dizer. Excepto que, vinda de onde veio, estranhei a citação de um poeta notoriamente homossexual.
Quanto ao resto, é evidente que não pensamos da mesma maneira. Não me dedico a grandes catalogações ideológicas mas, por exclusão de partes, com certeza não sou de esquerda. Agora, há na direita a que o Pedro Guedes pertence - corrija-me se estiver enganado - um sentimento de perda, um desejo omnipresente de «retorno», o apelo a uma dinâmica «regeneradora» que eu - acredite - já tentei entender em vão. Por curioso que tenha sido, o Integralismo Lusitano, em versão sebastianista, saudosista, ou revisto em amálgama para os tempos correntes, é para mim pura ficção, que há anos consumi com sincero prazer. E só. Se o Pedro lhe concede foros de Utopia «determinista», com ou sem maiúscula, com ou sem aspas, é um manifesto direito seu. Vantagens da liberdade. Façamos por conservá-la.

I guess I just wasn't made for these times II

Conforme referi num post lá para baixo, na sexta-feira fui a um casamento. Sendo o Tozé meu amigo, abstenho-me de dizer aqui mais do que lhe disse pessoalmente sobre cerimónias matrimoniais em que: existem «listas» de prendas em estabelecimentos demarcados; o número de convidados excede largamente o limite do suportável; o «copo de água» decorre em «quintas» alugadas; há um póster à entrada da sala de refeições com os lugares já distribuídos; as mesas possuem nome (a nossa era o «Tigre Branco»); os pratos são servidos ao som de Albinoni, Elgar e Daniela Mercury.

I guess I just wasn't made for these times

Entrei numa loja de mobiliário «decorativo» e dirigi-me à empregada:
- Boa tarde, vinha ver uma prenda para uma amiga...
- Ela é clássica?
- Não sei. Faz hoje trinta anos...
A empregada fitou-me com genuíno horror, recuperou-se depressa e despejou sobre mim uma teoria qualquer que dividia a humanidade em «clássicos» e «modernos». Dois minutos volvidos, fugi dali com um pequeno móvel para guardar chaves e correspondência, que ainda estou para perceber que escola integra. Depois, contei o episódio à minha mulher e ela riu-se. De mim, estou em crer.

segunda-feira, setembro 08, 2003

Beija-mão

Às vezes o Homem a Dias recebe umas comendas vindas de blogues que não conheço ou não gosto por aí além. O que é chato. Mas sabe bem como o caraças ler os recentes elogios do Mata-Mouros, do Nova Frente ou do Tradução Simultânea, que estão entre o melhor que se produz neste meio umbiguista e livre. Se nem sempre concordo com os respectivos conteúdos, quase de certeza é porque os seus autores são mais sensatos do que eu. E se fazem ou não fazem parte da lista ao lado é irrelevante: a actualização da dita tem sido adiada por mera preguiça deste serviçal. A eles, e a outros que se calhar me vão escapando, o meu muito obrigado.

Os blogues libertam

Visitei, com miserável atraso, os blogues «fascistas» de que a Maria José Oliveira falara na Gazeta do «Público» e que motivaram discussões várias por aí. Duas impressões. A primeira é que, dos quatro, três são completamente grotescos (o restante é o Último Reduto, mais polido - não só, mas também, por ter um link, talvez equívoco, para o Homem a Dias). A segunda impressão é comum ao ramalhete: passe a proverbial «boca» aos pretos e aos «gays» (embora citem António Botto), o combustível dos blogues em causa é o anti-semitismo e o ódio aos EUA. Não é por nada, mas se os critérios são estes, julgo que a lista de blogues «fascistas» em Portugal pode ser alargada de 4 para 40, ou 400. Estimativas por baixo.

Mais empadas e vinho tinto

Através de mails, diversos leitores manifestaram sentido espanto por eu desconhecer o sr. Luís Sepúlveda. Decerto com boas intenções, referiram-me livros dele, alguns traduzidos em Portugal, como aquele do velho que lia romances de amor ou coisa que o valha. Ora bem: lamento informar, mas isso eu já sabia. Eu já tinha uma vaga ideia de que o sr. Sepúlveda é um escritor latino-americano, e já associava o moço aos títulos citados. Porém, juntar nomes e títulos é fácil e não produz conhecimento sério. No caso, por exemplo, eu ignorava em absoluto o - digamos - pensamento do sr. Sepúlveda, incluindo a seminal Tese das Empadas. A verdadeira erudição exige que se vá um bocadinho além da rama: pede trabalho, esforço, dedicação sistemática. Ou no mínimo a leitura da «Visão». Não fora assim, e seríamos todos tão cultos quanto o Paul Johnson e a dra. Ferreira Alves (e olhem que um deles, palpita-me, nunca leu o sr. Sepúlveda).

domingo, setembro 07, 2003

Empadas e vinho tinto

Excelente post do Jaquinzinhos sobre José Afonso, músico inspirado e bobo ideológico. Intrigante é o post referir também um tal Luís Sepúlveda, chileno, que pelos vistos conseguiu condensar, numa singela entrevista à «Visão», toda a babugem terceiro-mundista dos últimos cinquenta anos. É em momentos assim que uma pessoa percebe o que anda a perder: eu nunca ouvira falar deste sujeito, e este sujeito é um génio. Quer dizer, quem, entre inúmeras pérolas, defende uma revolução assente em «empadas e vinho tinto» (sic, juro a pés juntos) tem de ser um génio - ou isso, ou um acabado idiota, no que eu não acredito. Se o Governo deseja, de facto, animar os melancólicos portugueses, basta-lhe decretar a obrigatoriedade de uma entrevista semanal ao sr. Sepúlveda - a cargo dos diversos média ou sempre na «Visão», é indiferente. O certo é que eu não me ria tanto desde que o dr. Carvalhas desmaiou para cima da minha cunhada.

sábado, setembro 06, 2003

E o «mister» do blogger.com?

Como a blogosfera, a «selecção de todos nós» esteve hoje em baixo. A vantagem, no segundo caso, é podermos responsabilizar o sr. Scolari, que em meia dúzia de meses esfrangalhou a equipa que deslumbrara a Coreia e o mundo.

sexta-feira, setembro 05, 2003

Isto não é um post

Faz dois dias que morreu o dr. António Pereira Coutinho. Clichés à parte, era um homem bom e brilhante, um dos melhores contadores de histórias que conheci. Era, também, pai do João, o meu melhor amigo. O «Independente» mencionou hoje o sucedido, revelando-o publicamente, e apenas isso justificou a presente nota. Por mim, tinha decidido (e mantenho) não escrever sobre o assunto. Por iniciativa própria: naturalmente, os blogues e o seu conteúdo não couberam nas curtas e dramáticas conversas que tive com o João desde quarta-feira. E a morte, real, próxima, de alguém que se estima e admira, não cabe nos blogues. Pelo menos, não neste. Não agora.

A lion in winter

O Tozé Gonçalves (nenhum parentesco) é meu amigo quase de nascença. Para fazerem uma ideia, noto que comemorámos o 25 de Abril de 1974 com uma valente pelada num campo da vizinhança, como de resto já havíamos comemorado o 24 de Abril, o 23 e etc. Depois, a vida prosseguiu e, com interregnos mais ou menos prolongados, a amizade manteve-se. Mas as circunstâncias foram cravando certas diferenças. Eu derrapei um bocadinho para o género reflexivo; o Tozé, que é a cara chapada do Peter O’Toole em novo, dedicou-se à fornicação sucessiva de todas as mulheres lindíssimas que lhe apareciam à frente.
Desde há uns anos, o Tozé chegara próximo do entendimento que ele deve fazer do paraíso, juntando às inúmeras moçoilas uma carreira de sucesso como empresário do audiovisual (pois...), com telemóvel epiléptico, viagens mundo afora, «jeep» da Chrysler e caiaque para os fins-de-semana.
Segundo determinados padrões, era uma existência perfeita; segundo os mesmos padrões, acaba hoje. Hoje, o Tozé casa-se. Verdade que a noiva parece a Linda Evangelista, mas trata-se igualmente de uma noiva, de um compromisso, do fim de uma época. Eu, e a maioria dos amigos de infância, lá estaremos, de esposas a tiracolo. Para contemplar com amargura a abdicação do último resistente. E para constatar com vingativa alegria o respectivo ingresso no nebuloso trilho da mortalidade.

Dúvida sem método

A rapaziada do País Relativo, um blogue, ao que sei, relativamente próximo do PS, linkou-me que foi um mimo. Sinceramente, agradeço. Sucede que o link surge na coluna dedicada aos blogues de direita, donde, sinceramente, pergunto: nota-se assim tanto?

Comunidade

Um leitor, Fortuna, interroga-me:

«Já agora, uma pergunta, se quiser ter a maçada de me responder. Quanto tempo lhe ocupam os Blogues por dia? Esta pergunta deriva da constatação do facto de que na blogosfera toda a gente parece conhecer-se, ou pelo menos conhecer os escritos, de hoje e de outros tempos, dos outros. Ora, isso leva imenso tempo. E depois ainda há o caso daqueles que sendo do Minho ou do Ribatejo falam de outros, do Algarve ou das Beiras como se estivessem todos no mesmo sitio e trocassem constantemente opiniões, etc. e tal. Eu acho curioso porque nunca me tinha apercebido deste imenso fluxo de contactos e desta familiaridade. Dá a impressão de que a blogosfera só veio facilitar práticas de sempre, que já toda a gente se conhecia antes.»

Caro Fortuna, sem maçadas lhe digo que não sei. Passo boa parte dos dias em frente ao computador. Dever de ofício, sabe, que me obriga a escrever isto e aquilo, para aqui e para ali: a revista «técnica» que coordeno (ai), guiões publicitários (ai, ai), crónicas (só o CM), diversos. Pelo meio, de quando em quando e sem aviso, sai um post. Pronto.
Sobre a familiaridade na blogosfera, acrescento que ainda hoje não conheço, ao vivo e a cores, ninguém (tirando o café com o Pedro Mexia de que falei lá para baixo). Mas dou passeios rápidos e regulares pelos blogues de que gosto, que são aliás cada vez mais. Um homem a dias, mesmo não sindicalizado, também tem direito ao lazer.

P.S.: Respondo-lhe em público para suscitar eventuais esclarecimentos dos restantes blogueiros. Se calhar, eles conhecem-se todos mutuamente. Se calhar, vivem de facto em comunidade, isolados numa redoma experimental, a expensas de uma instituição obscura. Por outro lado, coloca-se a hipótese de existirem apenas dois ou três rapazes com centenas de pseudónimos. Não faço ideia.
P.S.(2): A propósito da revista que mencionei, e antes que me tentem difamar, anda por aí uma publicação, «Guia do Automóvel» ou coisa parecida, cujo director se chama Alberto Gonçalves. Não sou eu, e já há processo de usurpação na calha.

quinta-feira, setembro 04, 2003

E o MST é o primeiro a levar

O Contra a Corrente regressou. Um abraço, Carlos.

Apelo

Há correio por responder. Peço paciência.

Afinal é o gajo que as tem!

Título do Público de hoje, secção «Nacional»: «PS e Bloco de Esquerda Querem Que Durão Mostre Provas Sobre Armamento do Iraque».

Godot em Belém

Segundo se lê aqui, o dr. Soares, homem vivido, mantém um potencial de indignação suficiente para, à luz da «consciência jurídica universal», se chocar com a situação dos «ditos terroristas» detidos em Guantánamo. A não menos chocante revelação aconteceu durante o 47º Congresso da União Internacional de Advogados, realizado no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Na sala, com capacidade para 1429 pessoas, estavam 57 felizardos, que aplaudiram sentados. Questionado em seguida sobre os 1372 lugares vazios, consta que o dr. Soares terá proferido um sonoro \uF8E7, também considerado «chocante» pelo jurista esloveno na quarta fila, que depressa tornou a invocar a «consciência jurídica universal». À hora deste post, ela ainda não tinha chegado.

quarta-feira, setembro 03, 2003

Análise de conteúdo

Nem de propósito, retomo um post que o Pedro escreveu há uns tempos, mais ou menos subordinado ao tema «O Uso de Cifras em Fernando Rosas: Contributos para um Esclarecimento». É que, no artigo de hoje, no Público, o emérito antifascista regressou igualmente à linguagem codificada, por razões desconhecidas mas que só nos podem inquietar.
Concretizemos. Em três momentos do citado artigo, o professor utiliza a expressão «\uF8E7», em referência a outros tantos sujeitos (gramaticais):

1. «A condenação que se deve fazer dos atentados contra o pessoal da ONU \uF8E7 (...)»;
2. «(...) da injustiça da ocupação americana \uF8E7 (...)»;
3. «(...) é preciso exigir responsabilidades políticas ao Governo português pelo seu aviltante comportamento neste processo \uF8E7 o que se tem feito insuficientemente.»

A complexidade do código é tal que a mesma cifra possui, obviamente, diferentes significados, que se revelarão aos iniciados de acordo com o contexto em que se inserem. Coisa para a CIA deitar os olhos, portanto.
Ainda assim, na minha humildade, proponho uma grelha simples, explicativa e naturalmente provisória. Basta substituir o «\uF8E7» pela frase ou adjectivo que se seguem:

1.
a) «sem nos rirmos»
b) «é treta»
c) «foi um frete»
2.
a) «e sionista»
b) «a mando de Israel»
3.
a) «fodido»
b) «em que não meteu prego nem estopa»

Duas adendas finais. Por um lado, insisto na natureza inacabada deste trabalho, que fica desde já aberto a novas sugestões. Por outro, faço notar que todas as frases de todos os artigos do professor obedecem a códigos, como é evidente, por exemplo, no destaque de hoje (edição impressa):

«Por mim, acho que já chega. Não se pode aceitar, sob nenhum pretexto, que o Governo da direita faça das forças de polícia portuguesas uma tropa de opressão e repressão do povo iraquiano para servir os interesses imperiais de quem quer que seja.»

Mas isto qualquer palerma que tenha ouvido falar em Estaline decifra. O «\uF8E7» é que é o diabo.

A quem possa interessar

Embora atrasado, chamo a atenção para dois factos: 1) o Pedro Mexia voltou; 2) O Pedro Mexia enalteceu o Homem a Dias. Por ambos, agradeço.

À vontade do freguês

Chegam-me ocasionalmente, de outros blogues, pedidos de autorização (?) para citarem excertos do Homem a Dias. Blogueiros deste país: citem à farta, quando e o que quiserem. Só peço fidelidade ao original (mas se desvirtuarem, torcerem ou manipularem grotescamente o texto, estejam descansados que eu não sou de tribunais).

terça-feira, setembro 02, 2003

Ressalva

Posso nem concordar com tudo, mas, acerca da Casa Pia, chegam-me as considerações do Mata Mouros, um (ex?) advogado que se exprime em português de gente e que, Deus o proteja, não vai a «debates» televisivos. É verdade, como atesta a conversa entre ambos: o Catalaxia também aborda o tema com lucidez e calma raras.

O Processo Reverencial Em Curso

Por muito que o assunto me desinteresse, não tenho conseguido escapar a alguns dos recentes debates sobre a «justiça», que descarregam diariamente dezenas de juizes e advogados nos canais televisivos. Além da Casa Pia, as acusações corporativas dão-me sono, mas fico fascinado com a pompa que envolve as espécies:
«Ó Mário Crespo, por quem é, trate-me por Senhor Doutor Juiz.»
«Com certeza, Senhor Doutor Juiz. Mas agora endosso a palavra ao Senhor Doutor...»
«Obrigado, Mário, e aproveito para esclarecer o caríssimo Senhor Doutor Juiz que as minhas referências a magistrados irresponsáveis e bandalhos não incluíam o Senhor Doutor Juiz, naturalmente.»
«Espero bem que não, Senhor Doutor, até por que o estimado Senhor Doutor terá consciência de que quando apelidei os excelentíssimos advogados de cáfila inconsistente fi-lo com propósitos construtivos e generalistas, nunca me referindo ao processo em curso.»
«Com certeza, Senhor Doutor Juiz, embora a colagem do Senhor Doutor Juiz ao absurdo parecer de sua eminência, o Senhor Doutor Pio de Vasconcelos, que eu venero com intensidade, seja uma perfeita palermice.»
Etc.
Eu percebo que os actos de Justiça exijam rituais, e em Londres, na solenidade dos Royal Courts, as perucas nem destoam. Aqui, porém, uma pessoa atenta nos fatos deste pessoal, no respectivo português, nos edifícios dos tribunais e nota que alguma coisa não bate certo. Respeitosa e definitivamente. Sobre esta discrepância, há até um texto muito bom no livro «Visitas ao Poder», da minha celebrada e estimadíssima colega, a Senhora Professora Doutora Maria Filomena Mónica.

Medalhas de bronze

Com o início do Verão, lá regressa o inevitável complexo dos caucasianos face aos povos do hemisfério Sul. Para o fim do Verão, não se consegue tomar café sem presenciar, na mesa em frente, um concurso de bronzeado. É mais uma tara de mulheres, mas alguns moços deixam-se embrulhar e dispõem-se a estender o braço, para comparações de melanina.
Qual é o interesse em ficar mais escuro, santo Deus? Ou mais claro, já agora? Porque não nos contentamos com aquilo que somos? O que é natural deixou de ser bom? E o lema do restaurador Olex, não nos ensinou nada? É espantoso como os portugueses são profundamente racistas (excepto Torres Couto, ninguém adopta pretos) e, em simultâneo, têm vergonha da sua aparência (que, diga-se, nem é tão nórdica como isso).
A mim, que tenho olhos verdes, mas que num ápice fico tão moreno quanto o Júlio Iglésias, estas ambições malucas passam-me ao lado. Não frequento praias (de dois em dois anos, ponho os pés numa), evito esplanadas sem cobertura e, em suma, detesto apanhar sol de qualquer forma. Além dos resultados serem inestéticos, o Van Gogh endoideceu por menos. A propósito, isto talvez explique uma ou duas coisas.

segunda-feira, setembro 01, 2003

Patriotas

Estou com o Maradona de alma e coração. Há meses, no CM, enfiei numa crónica uma frase (uma!) em que brincava com os Amigos de Olivença, que aliás não servem para outra coisa. Desde então, recebo copioso correio com as emocionantes aventuras dos moços, tipo «Os Amigos vão ao Parlamento», «Os Amigos vão a Olivença», «Os Amigos são Corridos à Pedrada de Olivença mas não Convém que se Saiba». Etc. Já percebi a ideia, mas, dentro do género, continuo a preferir os «Famous Five». Podem parar. Por favor.

Blogue de ouro do ano

Para o Mata Mouros, que com costumeira lucidez elegeu o Homem a Dias blogue da semana. Ainda por cima, subida honra, ex-aequo com uns saborosos Jaquinzinhos.

Gostos discutem-se V: Epílogo

O Almocreve das Petas reproduz a capa do tal livro (ver abaixo) e sintetiza o respectivo conteúdo, encerrando, ao que parece, este pequeno debate.

O tabaco mata, a UE mói

Por directiva «comunitária», e a partir deste mês, todos os maços de cigarros serão praticamente cobertos por alertas urgentes contra os perigos do tabaco. Como eu fumo Camel, uma das marcas que se antecipou à medida (suponho que por razões «estratégicas»), já me vou habituando à ideia. E estou a adorar. Nada melhor do que ser enxovalhado em público à conta dos meus prazeres quotidianos. É maravilhoso, por exemplo, constatar a expressão do rapaz do quiosque, quando me acaba de vender uma substância que garante (em tipo tamanho 72) reduzir a minha quantidade de esperma. Ou, no restaurante, espreitar de esguelha a senhora da mesa ao lado, que fita desdenhosa o meu próprio anúncio necrológico.
Obviamente, o rapaz do quiosque e a senhora do restaurante, dado não fumarem, são muito sadios e nunca morrerão. Ante esta perspectiva de uma vida eterna e eternamente aborrecida, há que providenciar-lhes ligeiros gozos. A humilhação dos fumadores é um deles, em que eu não me importo de participar. Afinal, para quem fuma dezenas de cigarros por dia, a vida é curta, e uma boa acção aqui ou ali não fará mal nenhum. É até saudável.