terça-feira, março 30, 2004

Chasing rabbits

A noite passada fui passear no mar. Não fui nada: a noite passada não preguei olho por causa de uma tentativa de assalto ao carro da minha mulher. Segundo testemunhas, dois sujeitos, talvez vítimas dos cortes na cultura, transformaram a porta do veículo numa instalação digna da Tate Modern. Em consequência, sinto-me tão exausto que sou capaz de jurar ter visto o prof. Marcelo apresentar um livro de Saramago. Não vou a médicos, mas acho que em casos de alucinação o repouso é prioritário. Seja.

Bloscares

Eu sei que há uma sobreexposição da iniciativa: ele é o trailer na 2:, os debates na CNN, o apoio do prof. Marcelo, cinco cadernos do «Expresso» e a colecção de medalhas alusivas do «JN». Ainda assim, sinto-me na obrigação de publicitar esta organização da Origem do Amor. Os resultados, vigiados pela entidade competente e pelo sr. Blix, serão revelados dia 1 de Abril. Se eu ganhar, é mentira.

Ferro Rodrigues: "Não queremos que o governo caia" após as europeias

E acrescentou: "A menos que Guterres tenha feito jurisprudência."

Sampaio salienta cooperação dos municípios de Cabo Verde e Portugal

Cabo Verde também já subiu a município?

segunda-feira, março 29, 2004

Os malefícios da saúde

Conheço apenas uma dúzia de países e, ao contrário da União Europeia, não vejo grandes possibilidades de alargamento. Enquanto democrata e fumador, tenho duas regras de viagem: não visito ditaduras nem lugares com leis (demasiado) cretinas. Infringi a primeira regra uma única (e espero que última) vez. A segunda tem adiado ad infinitum uma ida aos Estados Unidos e, ao que parece, a partir de hoje inviabilizará o regresso à Irlanda. É pena: nunca experimentei um despertar tão feliz - é o termo - quanto em Galway, defronte para a baía, com um Camel nos pulmões e a chávena de café no parapeito da janela. Dez meses separam essa manhã desta opressão consentida, que não suscita manifestações ou vigílias.
Fica a cantiga, cantada entre fumo pelos frequentadores do pub de Cong, no miraculoso «The Quiet Man», que agora me apetece considerar o filme mais belo de sempre. E, dadas as circunstâncias, o mais nostálgico também. Silêncio, por favor:

«If you ever go across the sea to Ireland
Then maybe at the closing of your day
You will sit and watch the moon rise over Claddagh
And see the sun go down on Galway Bay»

Eu sei que trata do crepúsculo, e não do despertar. Nada mais exacto, aliás.

sexta-feira, março 26, 2004

Ensaio sobre a toleima

Eu tenho um Saramago no quintal. Chama-se Ernesto, é um cágado de trinta centímetros e é tão parecido com o escritor que todas as manhãs me assusto ao vê-lo. Para Nobel, ao Ernesto só faltam os óculos, uma carreira literária derivativa e a capacidade de proferir maluquices sempre que lhe apontam um microfone (eu sei, porque já lhe apontei vários e a resposta é sempre um sábio silêncio).
Gosto muito do Ernesto, o que não significa que não goste do próprio Saramago. Gosto sim. Acho giro que uma relíquia estalinista mantenha, em 2004, as capacidades da locomoção e da fala: o Homem de Lindow, por exemplo, é mais velho, mas não sai do Museu Britânico e é sujeito com quem se torna puxado manter uma conversa decente.
Claro que Saramago também não diz coisa com coisa, mas, ocasionalmente, faz-nos pensar, pensar de facto. Quando ele diz "a democracia ocidental está ferida de morte.", nós pensamos "o homem é parvo". Quando ele pede "uma revolução das consciências", nós pensamos "o homem é doido." Quando ele garante que vivemos numa "plutocracia", que como todos sabem é um regime dominado pelo cão do Mickey, eu penso que é altura de oferecer um computador ao Ernesto e esperar pela respectiva obra. Não que o Ernesto não tenha já obrado - a Caminho é que ainda não publicou.

quarta-feira, março 24, 2004

Auto-estradas da informação

De todos os que chegam ao Homem a Dias remetidos pelo Google, os prémios de "Pesquisa Mais Bizarra", de "Maior Disparidade Entre os Meios e os Fins" e de "Maior Desilusão na Óptica do Utilizador" vão, inquestionavelmente, para:

"imagens das putas em timor leste"

Países da União Europeia apoiam sanções contra a Microsoft

A questão, obviamente, é a defesa da concorrência e o combate ao monopólio. Eu, se fosse estes rapazes, tomaria cautela.

Profundidade de campo

O noticiário da Sic passa uma breve entrevista com Sebastião Salgado, a partir do Hotel da Lapa. A tv está sem som, mas aposto que o fotógrafo discorre sobre a miséria do mundo, como habitualmente. Como habitualmente, vejo o sujeito e lembro-me da sentença de Millôr: "Pobre, enquadrado no ângulo certo, rende um dinheirão."

terça-feira, março 23, 2004

Miniscente

Sem comentários.

Pronto, não chorem mais, não era isso que ele queria (via Razão das Coisas)

Question: Do you expect Israel to attempt to assassinate you?

Yassin: I will be very happy if that happens. I wish they had done it already - if they have the talent for it. The day in which I will die as a shahid [martyr] will be the happiest day of my life.

Outing

Os ex-estalinistas, neo-nazis e simples lunáticos que por aí "condenam" sem mais a morte do pobre velhinho entrevado, não o fazem por razões de ordem moral, que aliás lhes são estranhas. O problema é que eles sentem - muito legitimamente - a perda de um aliado, um parceiro de causa. Ou, no calão da quadrilha, um companheiro de luta. Quando, e se, Bin Laden for capturado, o sentimento desta gente será idêntico. Apenas terão algum pudor em confessá-lo. Os que tiverem, claro.

segunda-feira, março 22, 2004

Espaço João Lopes

Não fui ver «A paixão de Cristo». Em duas palavras, não gostei. Prefiro a Madonna.

O velhinho numa cadeirinha de rodinhas

O Francisco escreve sobre a morte do supracitado.
E o David Frum também (obrigado, Miguel).

O J que só é PC no nome

E aí está o homem dos intermezzos mais longos e aleatórios da blogosfera pátria (a responsabilidade, ao que ele diz, é de "um primo" informático, que eu nunca vi e de cuja existência desconfio). Voltou, e não voltou sozinho: trouxe Churchill, Waugh (pai) e Gainsbourg, excelentes companhias para uma viagem no "pendular".

Basta ya, Yassin

Não lamento a morte de psicopatas. Nem temo as consequências: quem escolhe um psicopata como guia espiritual não necessita de pretextos para alimentar o ódio. O ódio já lá estava. As consequências serão as habituais.

sábado, março 20, 2004

O lixo nas ruas

E a sra. Maria do Céu lá fez o seu discurso, no qual mencionou o "terrorismo de Estado" levado a cabo por Israel - o que, segundo o «Público», "motivou o entusiástico apoio de uma jovem que, na fila da frente, estava vestida à árabe, com um cinto militar como os que são usados pelos mártires para transportar explosivos."
Seguiu-se-lhe um senhor da CGTP, que muito a propósito e sem se rir informou as massas de que "a liberdade foi conquistada há 30 anos e está bem sólida, e que o povo de Lisboa tem apego à paz." Ao mesmo tempo, ficamos a saber que o povo de Lisboa é constituído por apenas 5 mil criaturas, todas demasiado inseguras ou cobardes para proclamar individualmente a mais ou menos platónica devoção pelo terrorismo que não seja de Estado.
Felizmente, e ao que julgo saber, o Jorge Palma não chegou a cantar.

Do mal, o menos

Na manif pelo Iraque de Saddam, há boas e más notícias. Primeiro as boas: sem electricidade nem palco, Jorge Palma não vai cantar. Agora as más: a actriz Maria do Céu Guerra vai ler um texto (com megafone a pilhas).

P.S.: O exemplo podia ser aproveitado para o Rock in Rio. Cortavam a electricidade, proibiam o palco, a Sra. Maria do Céu lia um texto, o pessoal fugia, aquilo acabava num instante e o perigo de acção terrorista seria reduzido ao mínimo. Isso é que era um autêntico festival pela paz.

sexta-feira, março 19, 2004

Cruzes!

São esquerdistas sem consignação. É o blogue que melhor me insulta. Tem nova morada. Continuem, "pás", e não se esqueçam da manif pela paz. Ai, que as aspas saíram trocadas.

Não há homens assim

Todos os dias, vem aqui parar alguém que pesquisou "homem" no Google e deparou com 1.980.000 possibilidades. Pela preferência, muito obrigado.

O fardo do homem laico

"Esmagando-os não chegamos a lado nenhum. Não podemos matar um terço da humanidade", disse ontem o dr. Soares, referindo-se aos terroristas e aos muçulmanos - que para ele, pelos vistos, são uma e a mesma coisa. Eu não comento: espero que o sr. Munir o faça.

Nem era necessário

FJV e os gajos inteligentes

Afinal, o afamado blogueiro já escreveu sobre o tarado do Parque Mayer. Mais e (muito) melhor do que eu, diga-se.

Excessos de irreverência

O Carlos é um brincalhão. Agora lembrou-se de dizer que o dr. Soares defende o diálogo com a Al-Qaeda. Imaginem. Ó Carlos, disso nem o Louçã se lembraria. O dr. Soares é uma grande figura do Portugal democrático e nunca, nunca, nunca seria capaz de promover o paleio com criminosos. Mesmo nas conversas com Arafat ele utilizou mímica, com Mobutu sinais de fumo e com Craxi a sempre esclarecedora linguagem das bandeiras. Haja respeito.

P.S.: E parabéns, camarada!

Ao fim da rua, ao fim do mundo, ao fim da picada

Foi hoje à tardinha. Um afamado blogueiro liga para me informar que está na Tsf um sujeito a elogiar o 11 de Setembro. Entro no carro a tempo dos últimos minutos do «Pessoal e Transmissível», cujo convidado é um tal de Mário Alberto, "memória do Parque Mayer", informa o apresentador. Ainda ouço o sr. Mário Alberto, bonacheirão, jurar que gosta que os americanos morram. "Acha que as pessoas o levam a sério?", pergunta o anfitrião, entre a ternura e o deleite. "Só os gajos inteligentes." O que, em jargão de tarado, significa a audiência da Tsf.

Publicidade institucional

Aviso que não tenho comissão, mas descobri o site do prodigioso Solar Bragançano, que tantas reacções suscitou. Provem.

quinta-feira, março 18, 2004

A origem dos símbolos religiosos (parte I - a lenda do turbante)

Certo dia, um muçulmano entrou numa delegação da Caixa geral de Depósitos. Pediu para lhe guardarem uns sacos enquanto ia à casa de banho. Quando regressou, deparou com um batalhão de polícias, que lhe haviam revistado os sacos à procura de papelada religiosa. Não encontraram nada, o que o homem explicou por "ter o Corão na cabeça". Donde o turbante.

[Notas: no sudeste do Paquistão, e além do Corão, o turbante também serve para guardar fotos autografadas do Fernando Alvim e uma ou duas cassetes vídeo do Cabaret da Coxa - daí a designação Sics Radicais.
Se o turbante pertence a um chefe local ou sábio, ostenta normalmente uma lindíssima cor dourada e o seu proprietário é conhecido por Sic Gold].

O charme discreto da burguesia

O sr. Almodóvar deu graças pelo fim da opressão vivida nos oito anos de governo Aznar. Junto com uns colegas de profissão, anunciou que, enfim, o cinema espanhol poderá voltar a ser independente.
Eu bem estranhava a relativa qualidade dos recentes filmes do sr. Almodóvar, realizados sob a tirânica égide do PP. Afinal, aquilo não era exactamente dele, mas o produto da censura e de uma opressão fascizante. O verdadeiro Pedrito, sabemo-lo agora, é o de «Matador», «Saltos Altos» e «Kika» - ou seja, uma rematada merda. Que venha mais: já estamos prevenidos.

Bush go home!

"O sentimento antiamericano cresce em todo o mundo", titula o «Público», baseado num inquérito a oito países. Quer dizer, chamar "países" a coisas como a Jordânia, Marrocos e o Paquistão (os mais antiamericanos) demonstra um espírito de abertura que não é para todos. E, no Ocidente, o inquérito resume-se habilmente a três estados, Inglaterra (totalmente pró-americana), França e Alemanha (nem por isso), os dois últimos modelos de comportamento que tantas alegrias nos têm dado. Mas pronto, a verdade é que o "mundo" odeia os EUA e não há nada a fazer, muito menos contrariar as manchetes de um jornal de referência.
Para confirmar esta inegável unanimidade, aguarda-se com ansiedade nova sondagem, desta vez realizada entre os cidadãos do Irão, Síria, Coreia do Norte, Colômbia e Papua Nova Guiné. O Iraque já foi sondado, mas os resultados são susceptíveis de desvirtuar uma tendência que dá um trabalhão a elaborar.

quarta-feira, março 17, 2004

SMS

«BASTA PÁ
manif contra o Lúpus o Louçã e o k kiseres.
diz n pq sim.
n sejas um xato dakeles.
todos à porta da minha casa sbd de tarde (eu n tou)
xau»

Manda uma mensagem a cada um dos teus amigos.

Um doente

O sr. Carvalhas já culpou o dr. Barroso por qualquer atentado que suceda em Portugal. É justo. Injusto seria chamar velhaco ao sr. Carvalhas. Em última instância, ser inimputável é um estado clínico: aos 60 anos, as décadas de estalinismo crónico vão pesando.

Uma merda

Hoje de manhã, um socialista de cartão, com participação activa nos "Estados Gerais" e tudo, dizia-me que a vitória do PSOE, nas circunstâncias em que ocorreu, é, e cito, uma merda para todos os europeus. Para efeitos de contexto, garanto que o homem nunca votou PSD e odeia o sr. Bush. A questão é outra.

Santa gente

Aquele senhor que manda na mesquita de Lisboa disse que não se pode levar a sério a descoberta de uns versículos do Corão no lixo porque os muçulmanos nunca poriam o Corão no lixo e nunca poriam uma fotografia do Bin Laden dentro do Corão e eu acrescento que os muçulmanos nunca fariam nada que ofendesse Alá incluindo colocar bombas e desviar aviões e armadilhar criancinhas e torturar mulheres e deglutir alimentos demasiado ricos em glicídeos e polisaturados e arrancar pétalas de florzinhas. Infelizmente, ainda há muito preconceito.

Blogue é coisa séria

Uns leitores recriminam-me pela referência ao sr. Burmester; outros pela "higiene das mulheres de esquerda". Haja paciência. Por desfastio, esclareço que não gosto mesmo de empregados políticos e que a ideologia das senhoras é critério que não levo em grande conta. Espero é que a comunidade "cultural" não me bloqueie a caixa de correio, que os reaccionários não me venham agora chamar porco e que as feministas não retomem a cantiga da mulher-objecto. A propósito: mulher, para mim, só mulher-poema, -Lisboa, -Tejo, -varina, -Alfama, -Ary. -Ary, salvo seja.

terça-feira, março 16, 2004

Limpeza & Fuga

O Carlos Abreu Amorim já disse o essencial, mas sabe sempre bem assinalar a vassourada no moço que, mal ouve falar de cultura, saca logo de um piano (para os inimigos) e um requerimento formal de subsídio (para os amigos).

Traz outro amigo também

As reviravoltas do mundo moderno enchem-me de dúvidas. A esquerda festeja a derrota do PP em Espanha e antecipa as derrotas de Bush, Barroso e Blair. Blair? Para então celebrar o quê? A vitória de Michael Howard? Visto que Adriano Moreira emparceira com Manuel Alegre no «Prós e Contras», eu já não digo nada.

segunda-feira, março 15, 2004

Questão de princípio

Foi ontem à noite, durante a habitualmente prodigiosa refeição no Solar Bragançano. Discutíamos a higiene das mulheres de esquerda (ante certa discordância das nossas), quando os telemóveis desataram a tocar. Aparentemente, era vital que eu e o João soubéssemos da derrota do PP em Espanha. Atropelavam-se mensagens, chamadas e até o próprio dono do restaurante, o inestimável sr. Desidério, nos veio dar a nova. Havia, contudo, um problema: o pão com azeite acabara, as alheiras de Santo Huberto (sobre as quais qualquer comentário soaria indigno) estavam no fim, e o arroz de lebre, feito como ninguém o faz, aterrava delicado na mesa. Para depois, havia suspeitas de um cabrito à Montesinho. Espanha? Eleições? Al-Qaeda? Ah, sim. O mundo que rebentasse à vontade. Nós só precisávamos de mais uma hora para acabar aquilo. Não se vive sem definir prioridades.

O Iraque é deles

O sr. Sapateiro promete retirar as tropas espanholas do Iraque. A esquerda rejubila. Pelos vistos, a esquerda deseja que aquela gente se aniquile em sossego. Confesso que por vezes, nos instantes em que se me seca o leite da ternura humana, eu concordo com a esquerda. Depois o toledo passa-me.

P.S.: Há em tudo isto uma possível, embora assaz trágica, vantagem. Doravante, talvez nem seja preciso à Al-Qaeda explodir com inocentes para alcançar os seus objectivos: se a Doutrina 11 de Março/Sapateiro vingar fora de Espanha, ao sr. Bin Laden bastará pedir. E os povos e os governos obedecerão.

Esclarecimento

«Perante a irritação de estar a sofrer uma censura "fascizante", bombardeei o site do bloco com um número verdadeiramente inusitado de repetições do meu mail. Se quer que lhe diga, apeteceu-me ser um agitador, um terrorista informático, um hooligan anti-globalização, nem que fosse por um dia. Foi o que fiz. Por isso, quando lá foi, já os pobres bloquistas tinham decidido desistir, pois mandei-lhes um mail em que dizia apenas que, "caso censurassem o meu comentário novamente, ia todos os dias ao site mandar textos enormes de todos os neo-conservadores straussinos do planeta". Acusaram o toque e desistiram. Venci a batalha, mas perdi a razão, por ter respondido na mesma moeda e me ter deixado levar pela raiva. Cometi, assim, o mesmo erro (em proporções radicalmente díspares) que cometem os assassinos etarras e palestinianos.»

(Gonçalo Mendes da Maia)

sábado, março 13, 2004

E agora, Vimioso

Hoje e amanhã, estarei com o colunista do «Expresso», Manuel Ale..., perdão, João Pereira Coutinho em curta digressão espiritual pelos melhores restaurantes do Nordeste (e, obviamente, do país). Entre a lebre do Solar Bragançano e o bacalhau da Balbina (Miranda do Douro), talvez se decida a redenção da Pátria. Se se decidir, eu conto.

Quien ha sido?

A ver se percebo: se os atentados foram obra da ETA, a ETA é responsável pelos atentados; se foram da Al-Qaeda, os responsáveis são Aznar e Bush. É assim? Está percebido. Desculpem a maçada.

Post-scriptum

Há alguns blogues muito bons. O do João Sousa era dos melhores - excepto na assiduidade. Acabou. É uma pena. Há esperanças de regresso. É um consolo.

sexta-feira, março 12, 2004

O Homem a Dias desfeito pelos seus leitores

O Eduardo Nogueira Pinto faz-me duas perguntas:

«Porque é que insiste em ouvir a tsf? Quer que lhe empreste uns discos para ouvir no carro?»

Discos eu tenho (embora esteja sempre aberto a propostas). Apenas sucede que gosto de alimentar o masoquista que habita cada um de nós. Quando ele tem fome, ouço a TSF, leio as entrevistas do Abrunhosa e, Deus me perdoe, já dei por mim a ver festivais da canção requentados [v. post abaixo, sff.].

Canção para a Europa, legado ao mundo

Para homenagear (?)Thilo Krassman, ontem falecido, a RTP exibiu esta madrugada «Uma Cantiga para a Europa». Ou seja o festival da canção de 1976, enriquecido pelas circunstâncias da época. As cantigas, numa óbvia cedência ao pluralismo libertário, eram todas interpretadas por Carlos do Carmo. Pelo meio, Vitorino d’Almeida, o apresentador de serviço, convidava o público presente (ao que percebi, músicos e autores) a discutir os méritos de cada tema acabado de escutar. Não sei descrever tamanho gozo. Digo apenas que entre a audiência havia quem insistisse que se devia debater até que ponto uma canção é não revolucionária; que o maestro/apresentador enxovalhou ao piano praticamente todas os compositores; que Manuel Alegre e Ary dos Santos declamaram "poemas" interrompendo as célebres «Flor de Verde Pinho» e «Estrela da Tarde»; que as cabeleiras ostentadas hoje são vistas em museus e que o programa acabou aí pelas cinco da manhã. E depois? Eu tenho vários dvd do Andy Kaufman mas, em matéria de humor, o Portugal pós-revolucionário não é comparável com nada, nada, nada deste mundo.

Abriram as jaulas

Começou o Fórum TSF. O primeiro participante assegura: a culpa dos atentados é do PP; os atentados beneficiam o PP; o 11 de Setembro terá sido organizado pelos serviços secretos dos EUA, o 11 de Março pelos equivalentes espanhóis. Aí vem mais hora e meia disto.

PS: Ninguém tem um açaimo? Os participantes número 4 e 5 juram que Portugal, Espanha, Itália e Inglaterra foram ocupados por governos fascistas com o propósito de colocar os respectivos cidadãos na mira da Al-Qaeda, coitadinha (continua).

quinta-feira, março 11, 2004

Roubado a um leitor do Abrupto

«Queria que, se possível, divulgasse o que se passou hoje no site do Bloco: segui o seu link para o indizível comunicado do BE e fiz um comentário - nada de muito profundo ou pensado, apenas um desabafo. Era isto: "O Bloco continua na senda da vergonhosa justificação dos actos terroristas da ETA, do Hamas e companhia. A expressão fascizante apenas demonstra uma indescritível hipocrisia ideológica."

Minutos depois reparei que já lá não estava. Apenas restavam uns comentários inócuos. Insisti. Voltei a inserir o meu texto e logo me retiravam do site. Escrevi depois comentários como: "não será esta uma atitude fascizante?"; "que tal um pouco de liberdade de expressão de esquerda" ou; "isto faz-me lembrar a censura pidesca, e a vocês?".
Instei-os inclusivamente a me responderem para o email pessoal que indiquei, algo que ainda não fizeram.»

(Gonçalo Mendes da Maia)

P.S: Logo depois de postar isto, fui ao Comunicado em questão. O comentário do sr. Gonçalo Mendes da Maia está lá, aliás repetido diversas vezes. Nisto, pelo menos muito a posteriori, não tem razão. Já na "vergonhosa justificação dos actos terroristas" levada a cabo pelo BE, tem toda.

Sem título, sem alento

Falei há uma hora com um amigo, jornalista, em Espanha para cobrir as eleições. Resumindo: não sabe de nada. Ninguém sabe. Ninguém sabe se foi a ETA ou a Al-Qaeda. Ninguém sabe o que pensar da carrinha com os versículos do Corão nem do desvio ao modus operandi tradicional dos etarras. Ninguém sabe responder àquilo que os jornais de amanhã insistirão em perguntar - "porquê?" -, e em boa verdade ninguém quererá tanto saber a resposta quanto em punir os responsáveis pela barbárie. A barbárie não precisa de pretextos nem de causas. Destruir é gesto fácil e basta-se a si mesmo. Disto as pessoas sabem. Do resto não.
Depois vi a sra. Ana Gomes na Sic Notícias. Simples, naquele seu jeito terno e quase infantil, a senhora explicou que a culpa dos atentados de Madrid é, e cito, "da administração Bush". Ela sabe. Prendamos Bush e agradeçamos a Egas Moniz: a lobotomia tem francas virtudes. Merecia um Nobel.

Adenda

E também recebi um mail, em castelhano, que condena o apoio dos "intelectuais" ao terrorismo e, de caminho, à legalização do aborto. Nem publico. Entre os apoiantes de ambas as "causas", haverá ampla intersecção; entre as "causas", não.

Outro 11 de Março

O Francisco sugere que o prémio em géneros [proposto abaixo] seja "um curso de sevícias aplicadas na lógica do utilizador."

Madrid mata

Não ouvi ainda comentários da nossa classe política aos assassínios em Espanha. Sugiro um prémio em géneros para o primeiro que, depois de condenar veementemente os atentados, acrescente o proverbial «mas...».

Resistir sempre

O Origem do Amor vai atribuir os óscares da blogosfera. Eu sou um dos nomeados, agradeço e etc. Porém aviso: não é pela distinção que o Homem a Dias deixará de ser um blogue alternativo, independente e avesso à indústria que tudo padroniza e sufoca. Entretanto, como meto uma cunha?

"Portugal"

Com subtileza, o J alerta-me para as aspas "esquecidas". Aí vão elas. Em dobro.

Capturing the Friedmans

Palpita-me: hoje estreia um grande filme. Palpita-me: só um.

terça-feira, março 09, 2004

Calma, que é em Portugal

A violência doméstica vai estar na primeira linha das prioridades do governo!

Calma, que é na Andaluzia

PS espera maioria absoluta!

Calma, que é na Palestina

Pena de morte restabelecida!

Calma, que é na Grécia

Nova Democracia vence eleições!

segunda-feira, março 08, 2004

E os Lagostins, meu Deus, e os Lagostins?

Num blogue tendencioso e partidário, desses que não merece a dignidade de um link, lê-se: «Os Camarões ratificaram várias convenções sobre os direitos das mulheres, mas na prática, a sua aplicação enfrenta grandes dificuldades.»
Não admira, mas há exemplos bem mais graves: os Lavagantes, diga-se, têm dedicado ao assunto um solene desprezo.

Mas de qual?

Hoje é o dia internacional da mulher.

Maioridade

A partir de (3, 2, 1) agora, o CDS tem um blog. Chama-se Blog do Caldas ou coisa parecida, não importa. Que eu tivesse conhecimento, já havia blogues do PS e blogues do BE. Mais ou menos assumidos, mais ou menos envergonhados, são todos insuportavelmente disciplinados e doutrinários, e nenhuma criatura sem perturbações consegue tirar deles prazer que não seja perverso.
Corrijam-me se estiver enganado, mas do que se falava amiúde era do perigo que a blogosfera se institucionalizasse, e não que as instituições se convertessem aos blogues, não era? Pois era. É sabido que cada um faz o que entender: no dia em que se fundar o santacasa.blogspot.com ou o abraço.weblog.pt, o Homem a Dias inscreve-se no Grupo de Amigos de Olivença e desata a reproduzir comunicados.

Sinistros na construção civil

O sr. Vital Moreira, para não me nomear ou linkar, meteu-se com o Francisco a propósito do que eu escrevi (melhor: do que dirigentes árabes disseram) sobre os "palestinianos". Vindo de quem vem, percebo o método; neste caso particular não percebi se são as aspas que o incomodam ou se é o alegado muro da Cisjordânia. Voto na segunda hipótese: desde que outro muro lhe caiu em cima, vai para uns anos, o sujeitinho ficou assim a modos que desiludido e traumatizado com este tipo de construções. Tudo bem. Eu, por exemplo, também não gosto de marquises - e jamais passei décadas a venerá-las.

sexta-feira, março 05, 2004

Inveja do Gross

Este privilegiado, vá lá saber-se por que meios subsidiários do grande capital, já tem acesso ao novo disco dos Magnetic Fields. Mesmo no malévolo Império, o cd só sai em inícios de Maio. Mesmo no Kazaa, não há vestígios. O dr. Soares fala com palavras justas: o mal não é a globalização, mas esta globalização assimétrica, que deixa uns cada vez mais ricos e os restantes à míngua. Um outro mundo é possível: um mundo em que canções previsivelmente geniais sejam património simultâneo de todos; um mundo feito de refrões partilhados e cantados em uníssono; um mundo em que as prateleiras da Fnac não coloquem o dvd da Ala (que se faz tarde) dos Namorados na secção "música" e soneguem ao povo o direito à música de facto. Eu tenho um sonho.
A tempo: quando o Fórum Social discutir a transação das obras de Stephin Merritt, além da solidariedade e do "Che", contem comigo para partir umas montras.

quarta-feira, março 03, 2004

Melhor excerto do melhor post de sempre de hoje

«Agora, um trotsquista qualquer (como se alguém pudesse ser membro de um partido "goebbelsiano" ou "himleriano" e, ao mesmo tempo, ser considerado respeitável)(...)» (Luciano Amaral)

P.S.: E com estas e com outras descobri a forma de inserir aspas no meu template. Obrigado, "Palestina".

Redacção

Ouvi agora uma reportagem na TSF, que é uma rádio. Eu gosto muito das reportagens da TSF. A reportagem de hoje era sobre uma turma do sétimo ano de meninos e meninas de Ermesinde que têm aulas de educação sexual com uma setôra de educação sexual. A setôra dizia imensas coisas e os meninos e meninas também e eram coisas bonitas, parecidas com aquilo que os concorrentes do Big Brother e da Operação Triunfo dizem. O momento mais giro foi quando uma menina disse que o período fértil era igual ao cio e a setôra mandou toda a gente procurar no dicionário. E depois outra menina disse que os rapazes têm de ter sempre relações sexuais senão os outros rapazes gozam com eles e a setôra interrompeu a menina para exclamar ‘se calhar, estamos aqui a falar de uma coisa que a Filipa introduziu’, mas não chegou a dizer o que é que a Filipa introduziu. Ou foi a TSF que não deixou.

Fim de papo (anexo - A Bíblia em construção)

Parece que o Cruzes Canhoto tem dificuldade em situar cronologicamente a Bíblia. Bem sei que o tema é polémico, mas não exageremos. Ontem, dei uma data de exemplos. Como não adiantaram, aqui vai outro: quando Zuheir Muhsin (hoje Issam Al-Qadi), que foi líder da ala militar da OLP e membro do seu Conselho Executivo, diz ao jornal holandês «Trouw», em 1977, que ‘a existência de uma identidade palestiniana autónoma apenas serve propósitos tácticos’ e que ‘a fundação de um estado palestiniano é um novo instrumento na batalha contínua contra Israel’ está a referir-se a um período posterior à conclusão da Bíblia. Mesmo o Novo Testamento já havia fechado a edição uns anitos antes de 1977.

P.S.: E agora que as questões ontológicas terão sido esclarecidas, posso manter o direito à propriedade da minha casa?

terça-feira, março 02, 2004

Fim de papo

Este moço do Barnabé, canino discípulo do dr. Louçã (nota-se pela raiva), volta à carga com os ‘palestinianos’ e as aspas. Tentei a brandura; desçamos ao pormenor (não exaustivo):

«A única dominação árabe [na ‘Palestina’] desde a Conquista de 635 durou, no máximo, 22 anos...»

- Comentários do Líder da Delegação Síria à Conferência de Paz de Paris, 1919

«Consideramos a Palestina como parte integrante da Síria Árabe, da qual nunca esteve separada.»

- Resolução do Primeiro Congresso de Associações Cristãs e Muçulmanas, 1919

«É tempo de que a ‘cidadania’ palestiniana deva ser reconhecida por aquilo que, de facto, é: nada mais que uma fórmula legal sem significado moral.»

- Relatório da British Palestine Royal Commission, 1937

«Não existe nenhum país chamado Palestina! Esse é um termo inventado pelos sionistas! Não há Palestina na Bíblia. A nossa terra foi durante séculos parte da Síria.»

- Depoimento de Auni Abdul-Hadi, líder árabe local, à Comissão Peel, 1937.

«A região foi chamada de Palestina pelos romanos de forma a erradicar qualquer vestígio da sua história judaica.»

- Reverendo James Parks, «Whose Land?», 1970

«A palavra Palestina não existe no Antigo Testamento. (...) nem no Novo.»

- Bernard Lewis, «The Palestinians and the PLO, a Historical Approach, 1975

«A adopção oficial do nome Palestina pelos romanos para designar os territórios dos antigos judeus, sobretudo da Judeia, parece ser posterior à supressão da grande revolta judaica de Bar-Kokhba em 135 Antes da Era Comum. (...) parece que o nome Judeia foi abolido (...) e a região renomeada Palestina ou Palestina Síria, com a intenção de obliterar a sua identidade judaica. O nome anterior não terá desaparecido completamente, já que no século IV, ainda encontramos um autor cristão, Epiphanius, referir-se à ‘Palestina, isto é, Judeia’.»

- Bernard Lewis, idem.

«O nacionalismo palestiniano-árabe é sobretudo um fenómeno posterior à I Grande Guerra, e que só se tornaria um movimento político significativo após a Guerra dos Seis Dias e a anexação, por Israel, da Faixa Ocidental.»

- Mitchell Bard, «Myths and Facts, a Guide to the Arab-Israeli Conflict», 2002

«’Palestina’ é algo que definitivamente não existe em termos históricos.»

- Depoimento ao Comité de Inquérito Anglo-Americano do Prof. Philip Hitti, árabe, opositor da criação de Israel, 1946.

«Politicamente, os árabes da Palestina não são independentes no sentido em que constituam uma entidade política autónoma.»

- Representante do Alto Comité Árabe para as Nações Unidas em declarações à Assembleia-Geral das ditas, 1947.

«É do conhecimento comum de que a Palestina não é mais do que o sul da Síria.»

- Ahmed Shuqeri, antigo líder da OLP, citado em Avner Yaniv, «PLO», 1974.

«As comunidades de língua árabe na ‘Palestina’ pensavam em si enquanto ‘otomanos ou turcos’, sírios do sul ou ‘povo árabe’ - mas nunca como ‘palestinianos’.»

- Joan Peters, «From Time Immemorial», 1984.

Queixinhas acerca das contradições entre as afirmações acima, assim como da recusa de certos países em aceitar receber aqueles a que chamam de ‘irmãos’, devem ser endereçadas a quem de direito. Para mim, chega. Discutir com escumalha, ainda vá. Com um simples idiota, não tenho paciência.

Entre aspas

O Barnabé deseja saber porque é que eu escrevo ‘palestinianos’ com aspas e pede explicações.
Ora pois. Primeiro, e embora seja essa a intenção, eu não escrevo nada com aspas, mas com umas coisas que o miserável do template me arranja. Depois, eu explicaria de bom grado. Mas ou muito me engano ou o Barnabé conhece os motivos e a pergunta é retórica e não tira o sono a ninguém daquelas bandas. Se assim não for, avisem que eu entro em detalhes: acho fundamental que o Barnabé durma em sossego pelo menos oito horas diárias, já que não parece plausível entre nós qualquer amizade.

Todo um programa

Ao contrário do Pedro Mexia, não tenho amigos na esquerda ou na direita. Quer dizer, na direita tenho um, a que aliás penso que o Pedro alude, mas não é nada ortodoxo. Os meus amigos, três ou quatro bem contados, não votam. Excepção ao já referido, julgo que não possuem cartão de eleitor e têm uma vaga ideia sobre quem é o actual primeiro-ministro.
Antes assim: eu também não divido nem congrego as pessoas de acordo com a crença ideológica. Para mim, a única separação válida que aplico às pessoas que me rodeiam é a disciplina de sono. Há os que se impõem horas de dormir e os que dormem quando calha - e se calha. Os primeiros são, não restem dúvidas, mais decentes, confiáveis e aborrecidos. Os segundos constituem o meu círculo de amizades. Altamente comprometedoras, reconheço.

segunda-feira, março 01, 2004

Cenas da vida nacional

Quinta-feira passada, jantei em Leça da Palmeira com três célebres vultos do liberalismo pátrio, vulgo «Nova Direita». Pedi perna de anho no forno. No final do longo jantar, decretámos que ‘isto’ não tem emenda. O anho estava uma delícia, mas não é elegível.

O Apocalipse segundo EPC:

«Imagino um dia feliz de megalomania em que me chega um telegrama a casa dizendo que metade da humanidade pediu um dos meus livros e que, cientificamente provado, o leu, ou fez que alguém o lesse em voz alta!»

Perdido na tradução

Como sempre, convenço-me a ver os óscares. Como sempre, adormeço a meio, aí por alturas da Melhor Fotografia ou palermice do género. Como sempre, sou informado de manhã acerca dos vencedores. Como sempre, fico espantado com a boçalidade das decisões.
Acho que, durante a minha existência, nunca o Melhor Filme designou um filme realmente bom. A ocasião em que se terá andado mais perto foi com «Imperdoável», mesmo assim obra ‘menor’ de Clint Eastwood. Nos outros óscares relevantes, a paisagem pouco melhora: Oliver Stone venceu dois bonecos de Melhor Realizador, Jack Nicholson é recordista e até Al Pacino, ceguinho e com Ferrari, mereceu honras da Academia ou lá o que é.
De facto, o lixo parece ser a regra, e este ano a regra instituiu-se de vez: um video-game arrecada uma resma de prémios; um vídeo-clip (brasileiro) teve quatro nomeações; Sean Penn é o Melhor Actor e «Lost in Translation» ficou, como se diz na bola, em branco. Escusado lembrar que «American Splendor» nem foi para aqui chamado e que «Pieces of April» recebeu uma nomeação fortuita.
Há, então, motivos para malhar no cinema americano? Nem tanto. Entre as principais categorias de 2003, os únicos produtos aproveitáveis são dos poucos realizados por cidadãos dos EUA: Sofia Coppola, Eastwood e Gary Ross. A desgraça vem de longe, da Nova Zelândia, da Inglaterra, da Austrália e nem sei qual a origem daquela miséria ‘sobre’ Vermeer.
Nos bons tempos, os realizadores europeus (sobretudo vindos do Leste) chegavam aos EUA e desatavam a verter maravilhas; agora, maçam-nos a paciência com o que eles julgam serem épicos modernos ou com a famigerada ‘sensibilidade alternativa’ (cujas sobras particularmente repugnantes enchem os festivais de Cannes e Berlim para gáudio de analfabetos). E a América, por misterioso complexo de culpa ou por contágio, recompensa-os com pompa e estatuetas.
Ao ‘abrir-se’ para o mundo, o cinema americano (passe as excepções e a redundância) perde em vigor e nitidez o que alcança em infantilidade e ‘introspecção’ oca. Principalmente, tende a fechar-se para o talento, pelo menos no que à consagração dos óscares diz respeito. Hollywood, que dantes era a Meca das fitas, ameaça hoje tornar-se na terra média, ou algo pior. Para desopilar, e parafraseando a dona Anabela Mota Ribeiro, hoje vou rever qualquer coisinha com o Cary Grant. Ou com o Jim Carrey. Nenhum deles - incluindo a dona Anabela - ganhou um óscar.