terça-feira, novembro 30, 2004

Isto

Se bem percebo, o ministro que, por delicadeza, não lançou o DVD do Benfica pela janela, lançou-se ele próprio pela dita e, por causa disso, o PR fez o mesmo ao Governo. O PR, este PR, falhou há quatro meses, falhou agora, falhará sempre que necessário. O PR, este PR, é a simpatia mais incompetente que o país já conheceu. Pensar que um terço dos portugueses elegeu isto, e por duas vezes, é a prova maior da degradação política de que tanto se fala.

PS: Li agora os comentários do Carlos Abreu Amorim e do João Miranda no Blasfémias. Dito de outra - e superior - maneira, está lá tudo.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Partilhar a Verdade

Li agora, Ricardo. Não me surpreendo. Devagarinho, o mundo civilizado curva-se ante as evidências.
[Eu comprei isto logo que foi editado e posso testemunhar: o Like an Angel..., com o arcordeão do Benny Andersson, é a canção mais bonita do disco. Mais: aposto que a versão original, do álbum The Visitors, serviu de inspiração e não só para uma ou duas coisas dos This Mortal Coil e para a obra completa da Julee Cruise.]

quinta-feira, novembro 25, 2004

Meu caro Carlos,

Só para despachar certa questão, informo que não comprei o "The Seven Basic Plots" pela Amazon: milagrosamente, o rapaz jazia na FNAC de Matosinhos, secção english literature, a choramingar entre pilhas de "Stupid White Men" (vale pela auto-comiseração do título) e literatura dita de aeroporto (apesar de tudo, muito preferível).
Mas escrevo-te por outros motivos. Em primeiro lugar, para te dizer que também vi o referido programa, embora não me lembrasse de todos os participantes. Para ser franco, não me lembrava de nenhum, excepto do MEC e do portentoso Carlos Reis. Tu anotas essas coisas, é?
Em segundo lugar, para fazer um bocadinho de publicidade: tal como o teu post, a minha crónica na Sábado de amanhã versa justamente a escola, o TPC e os sábios que lhe decretaram greve. E, mais uma vez, estamos de pleno acordo. Tirando a tua esdrúxula inclinação para o hip-hop ou lá como é que essa merda se chama, parece-me que estamos sempre de acordo. Somos uns Gomes da Silva, eis a verdade.

Um exemplo a seguir

Freitas do Amaral, Mário Soares, Miguel Veiga, Urbano Tavares Rodrigues. Estes quatro senhores escolheram os poemas das respectivas vidas e o “Público” editou-os em livrinhos. O objectivo? Fazer com que as pessoas até aqui indiferentes à poesia a comecem a odiar deliberada e apaixonadamente.

Adenda: soube agora que um dos próximos convidados da colecção Os Poemas da Minha Vida é Vasco Gonçalves. Para quando as Obras-Primas da Pintura, por Luís Fazenda? Ou Os Grandes Momentos da Música Barroca na selecção daquele moço do Porto que julgo chamar-se Marco António? As possibilidades são inúmeras.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Activista acorrenta-se a candeeiro do Palácio de Buckingham (título do DN)

Pois. E eu continuo a sonhar com o luminoso dia em que todos os activistas do mundo democrático se acorrentem a candeeiros. E que depois percam as chaves. E que as lâmpadas depois se fundam.

Duas perguntas (ou melhor, três):

1) Onde fica Canas de Senhorim?
2) Para que foi necessária a polícia? Os tipos que ficaram bloqueados no comboio não chegavam para desancar os manifestantes?

sábado, novembro 20, 2004

O Homem a Dias desfeito pelos seus leitores

O Ricardo Oliveira, que não conheço pessoalmente mas que é um dos leitores mais assíduos deste blogue, escreveu-me para, entre outros assuntos, dizer que "(...) e porque considero muito a sua opinião (mesmo quando, incompreensivelmente, e a propósito da AACS, se põe a citar Morais Sarmento e Guilherme Silva) (...)".
Por voltas que eu desse, só consegui descobrir uma eventual citação no vocábulo altíssima (ver post anterior), que terá sido também utilizado pelos políticos em causa. Se é isto, tenho uma atenuante: não fazia a mínima ideia. Agora o meu altíssimo respeito pela AACS e, acrescente-se, pelos políticos em causa, continua intocável.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Mesmo com um irremediável atraso, é vital:

a) saudar o regresso da Charlotte;
b) agradecer ao Nuno a descoberta da Nellie McKay;
c) deixar bem claro que este livro é sublime;
d) dedicar mais tempo à religião;
e) preocupar-me com as conclusões da Altíssima Autoridade para a Comunicação Social;
f) esta última era a brincar.

sexta-feira, novembro 12, 2004

Muqata, banana e cola

Durante os últimos anos, achava eu, Arafat estivera sitiado no seu quartel-general. De súbito, irrompeu a muqata. O corpo de Arafat regressa à muqata. A muqata está a ser preparada para o funeral. Ultima-se um mausoléu junto à muqata. As pessoas concentram-se em volta da muqata. As pessoas dão uns tiritos perto da muqata. Há uma multidão de repórteres na muqata. A muqata agita-se. A muqata é um símbolo. Onde há vida, há muqata.
O mais divertido é que não se encontra jornalista, com ou sem aspas, que não tenha adoptado o termo, como se a respectiva exibição e repetição à náusea evidenciasse uma especialização repentina em arabismo. De certo modo, a muqata é o doutoramento do pelintra, como a já celebre rua árabe era o mestrado. Mas, e a julgar pela admiração que dedicam a um assassino, a licenciatura perdeu-se no caminho.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Período de nojo

O senhor primeiro-ministro “curva-se perante a memória” de Arafat. O senhor presidente da República garante ter “perdido um amigo”. Quando falamos dos “responsáveis” deste país estamos a ser irónicos, não estamos?

segunda-feira, novembro 08, 2004

Best of, my ass

Já é vergonhoso que um gajo não coma marisco sem perguntar primeiro à irmã, mas muito pior é arranjar a desculpa do best of para se escusar a escrever ao menos o post dominical. Meu menino, agora vai com ameaças: se não escreves quando (e como) te compete, desato a lançar-te a vida privada pela janela. Exemplo? Então e no sábado, os bombeiros sempre arrombaram a porta? E isto, dito assim, não tem um ar escabroso? É apenas o início. A menos que o best, off.

sábado, novembro 06, 2004

O Koba de Gaza

Cada pormenor do morre-não-morre de Arafat cumpre à risca os preceitos de sucessão de um líder despótico e de um regime demente. Ler uma boa biografia de Estaline esclarece. A diferença está na participação directa de uma democracia no corrupio. Mas - hélas - trata-se da democracia francesa.

quinta-feira, novembro 04, 2004

Direitos Humanos: modo de usar*

A principal polémica na Holanda, onde passei a semana, está ligada a uns cortes orçamentais na segurança social. Foi isto que me disseram, pelo menos, e foi isto que motivou no sábado, em Amesterdão, o maior protesto local dos últimos dez anos e, de longe, o maior em que já me vi envolvido. Pela minha parte, note-se, apenas protestei, e em surdina, contra a manifestação em si. Mais do que questionar o Governo, os apitos e os berros de duzentas mil pessoas demolem por completo o sossego alheio e as férias dos incautos.
Fora isso, a segunda polémica holandesa do momento é, desde a respectiva transmissão televisiva em 29 de Agosto, uma curta-metragem escrita por uma deputada do Parlamento nacional. A senhora chama-se Ayaan Hirsi Ali, é somali de nascimento e foi criada sob os preceitos do Islão. O filme chama-se "Submission" (Submissão) e, como o nome indica, trata das mulheres criadas (e casadas) sob os preceitos do Islão.
Ao que a senhora Ali insinua, esta pode não ser uma experiência agradável, dado que com frequência envolve matrimónios forçados, espancamentos e a ocasional castração. As reacções não demoraram, e várias associações muçulmanas da Holanda acusaram a deputada de não compreender a “complexidade” (?) da violência conjugal e de retratar o islamismo como uma cultura retrógrada (!).
Enquanto a sra. Ali resolveu rodear-se de segurança permanente, algumas associações não muçulmanas de “direitos humanos” também se insurgiram. Naturalmente, insurgiram-se ao lado dos putativos espancadores: para Steven Huismans, director de um bando do género, a sra. Ali tem sido insultuosa e “demasiado provocadora”.
Pois tem. Os activistas dos “direitos humanos” farejam os excessos do Ocidente com canina aplicação. Quando o assunto são os outros, os activistas revelam-se de uma tolerância comovedora: os nossos excessos são as ligeiras idiossincracias dos povos exóticos. Vantagens do multiculturalismo. Se um holandês (ou um português) "assediar" a telefonista no escritório, isso constitui uma inominável violência; se um marroquino convencer à chicotada a noiva de onze anos a obedecer-lhe na cama, estamos perante uma "tradição", que não apenas deve ser respeitada como enaltecida na sua milenar pureza.
Talvez este pudor explique que, durante boa parte do “caso” Hirsi Ali, diversas activistas holandesas preferissem flutuar ao largo de Aveiro, tentando resgatar as mulheres lusitanas de um martírio sem fim. E que, mesmo agora, eu não tivesse vislumbrado o “barco do aborto” em nenhum dos canais de Amesterdão, reconvertido ao auxílio de muçulmanas, grávidas ou não.
É possível que, hoje, as donzelas do barco prefiram empenhar-se na reeducação de holandesas preconceituosas, como a anónima que colocou o seguinte anúncio no “Amsterdam Weekly” de 29 de Setembro: “Senhora, 24 a., procura cavalheiro carinhoso para relacionamento sério. Deve ter menos de 40 anos e, de preferência, não ser egípcio, saudita ou turco.” Que vergonha! A menina anónima influencia-se por ninharias e, de caminho, arrisca-se a desbaratar oportunidades únicas. A julgar pelo que se vê na Al-Jazira, há por aí certos sauditas ou egípcios que fazem muitos homens perder a cabeça. Imagine-se o que não farão a uma mulher.

*Este texto foi publicado na Sábado de 8 de Outubro último. Faltou dizer que Submission foi realizado por Theo Van Gogh. Mais se acrescenta que Theo Van Gogh foi assassinado anteontem, em Amesterdão. O assassino, ou activista, se preferirem, é um cidadão marroquino e muçulmano. Só para que não digam que são sempre os mesmos.