quarta-feira, agosto 10, 2005

Intolerância

O Miguel Noronha e o Luciano Amaral lançaram-se numa curta polémica acerca da autoria da expressão “mensalão do Saddam”. Por motivos que ignoro, fui metido no meio, o que me leva a tentar esclarecer dois ou três pontos. Primeiro, a piada, infelizmente, não é minha, o que descarta qualquer sombra de plágio e subsequente processo judicial. Segundo, e por mais que me expliquem, não consigo perceber a aversão da Nova Direita ao bacalhau com arroz, assunto a que invariavelmente recorre. Bem sei que as batatas vieram da América e o arroz, excepto pela Condoleezza, veio da China. Mas não acho que a gastronomia deva obediência a uma rigidez ideológica inadequada a liberais como Vossas Excelências. O próprio Hayeck, antes de vender o “c” por dívidas ao fisco, chegou a usar o arroz de modo considerado extravagante para o seu tempo. Nas suas memórias, Abba Lerner (não confundir com Abba Eban, mas podemos confundi-lo com aquele grupo sueco) conta que, já em Londres, Hayeck não dispensava um pratinho de arroz branco como acompanhamento extra do arroz de marisco. E toda a gente sabe que o Road to Serfdom, na origem, era destinado à extinta revista Easy Recipes, enquanto manifesto de repúdio pelo predomínio dos tubérculos na culinária anterior à II Guerra. O mestre ensinou-nos a liberdade: respeitemo-lo.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Como poupar trabalho à malta do Mil Folhas

Inquérito «Os Meus Livros»

Qual foi o último livro que leu?
The Owner-Built Landscape: Installation Techniques.

O último que abandonou a meio?
The Owner-Built Landscape: Installation Techniques, mas a versão em cantonês que veio com a queda de água que comprei para instalar no jardim.

E o último que ofereceu?
The Owner-Built Landscape: Installation Techniques, a versão em cantonês.

Lê vários ao mesmo tempo?
Três. Um em cada mão, e o terceiro segura-se não sei como.

Como é que arruma os seus livros?
Não arrumo. A minha criada tem um mestrado em Ciências da Documentação.

Tem mais ficção, poesia, ensaio...?
É claro que sim!

Onde é que prefere ler (cama, café, praia, etc.)?
Em piscinas, celeiros, varandas de 4º andar, rotundas.

Que livro gostaria de ver traduzido em Portugal?
Um que tenho ali dentro.

Sublinha os livros, escreve nas margens, usa marcadores?
Uso invariavelmente um lápis Noris N.2, que adquiro na velhíssima papelaria do sr. Lima, que é já ali. Com a ajuda de um afiador Lady Bird (não dispenso), aguço a ponta do lápis durante vinte, vinte e cinco minutos, ou até abolir uns oito centímetros do dito. Depois abro o livro na página 23 (superstição? Tique? Prefiro que a resposta me seja ocultada), deixo-me seduzir pelo aroma que o volume, mais do que exala, sugere, e sou conduzido para lugares insuspeitos. Quando, enfim, me preparo para sublinhar a obra e desenhar o pato Donald na contracapa, reparo que, afinal, não fui conduzido para lugares insuspeitos, mas para próximo de Celorico da Beira, e tenho de apanhar o autocarro de regresso e iniciar tudo outra vez.

Consegue escolher o livro da sua vida?
Consigo.

terça-feira, agosto 02, 2005

É aqui ao fundo e à direita, sr. presidente. Consegue vê-lo?

Eu não fazia ideia de que o dr. Sampaio dava conselhos aos populares. Mas ainda bem que assim é. Afinal, o presidente da República tinha de servir para alguma coisa. Entretanto, eu ando com dúvidas sobre um molar direito: não sei se desvitalizá-lo, se arrancá-lo. Já marquei audiência em Belém. Tudo se resolverá pelo melhor.