quarta-feira, julho 26, 2006

Código de conduta

Vai para aí tanto debate e, segundo recolhi da opinião especializada, a resolução de todos os problemas, maçadas, doenças e achaques em Gaza, em Beirute, no Médio Oriente e no mundo passa pela observância de um simples pressuposto: não irritar os muçulmanos. Claro que, antes de mais, isso exige a eliminação de Israel. Elimine-se. E depois? Será que os muçulmanos vão querer um chá com torradinhas? Pouca manteiga? Pronto, e olhem que é da magra. Está bem assim? Se preferirem, têm aqui o adoçante. Querendo mais alguma coisa, basta pedir. Estão mais calminhos, estão? Assim é que é bonito. E não se esqueçam: estamos sempre às ordens de V. Exas. Não vale a pena a gente irritar-se.

Steyn, decerto

In 1971, in the lobby of the Cairo Sheraton, Palestinian terrorists shot Wasfi al-Tal, the Prime Minister of Jordan at point-blank range. As he fell to the floor dying, one of his killers began drinking the blood gushing from his wounds. Doesn't that strike you as a little, um, overwrought? Three decades later, when bombs went off in Bali killing hundreds of tourists plus local waiters and barmen, Bruce Haigh, a former Aussie diplomat in Indonesia, Pakistan and Saudi Arabia, had no doubt where to put the blame. As he told Australia's Nine Network, "The root cause of this issue has been America's backing of Israel on Palestine."
Suppose this were true — that terrorists blew up Oz honeymooners and Scandinavian stoners in Balinese nightclubs because of "the Palestinian question." Doesn't this suggest that these people are, at a certain level, nuts?

quinta-feira, julho 20, 2006

Crente, crua, cruel, cretina

Médio Oriente - a barbárie à solta

Estão a ver? Eu não morri

Não fosse grotesco, teria graça. No “telejornal” (RTP1, serviço público), passa uma “reportagem” da CNN, na qual o “jornalista” se deixa guiar entre escombros por um confesso membro do Hezbollah. De vez em quando, o “resistente” desata a correr (para fugir, explica, da aviação israelita, que vem aí a qualquer momento). De vez em quando, pára, aponta para umas ruínas e informa o “jornalista” de que ali só pereceram civis inocentes. E não, supõe-se, terroristas como ele. O “jornalista” abana a cabeça em sinal de lamento. Regresso ao estúdio. José Alberto Carvalho exibe consternação. Eu também, imagino que por razões diferentes.
Adenda: ontem, na Sky News, este resistente/terrorista servia de cicerone a outras estações televisivas, que bebiam com avidez as suas palavras. Nos mesmos locais, o cicerone fingia a mesma angústia, repetia os mesmos queixumes ("É esta a democracia de Israel, é esta a democracia de Israel, é esta a democracia de Israel!") e soltava, com assinalável timing, os mesmos ganidos. Temos, portanto, um relações públicas do Hezbollah com vocação para amador dramático. E temos, escusado dizer, uns amadores do jornalismo com vocação para relações públicas do Hezbollah.

Definições de um país de merda?

Um país que fala a mesma língua de Vital Moreira, embora em versão melhorada. Um país em que Vital Moreira existe. Um país em que Vital Moreira merece, dentro de certos círculos (ooooo) uma espécie de respeito. Um país em que Vital Moreira possui um blogue e, com compreensível custo, escreve nele. Um país em que o blogue de Vital Moreira é partilhado com um destroço mental que assina AG e, assim, envergonha todos os AG do mundo, excepto aquele moço dos refugiados. Um país em que Vital Moreira suscita uma dúzia de linhas como estas.

quarta-feira, julho 12, 2006

Fungos



Foi há uns vinte anos que descobri The Madcap Laughs. Até ao fim da adolescência, não larguei o disco. Não sei porquê. Syd Barrett não sabia tocar nem cantar. Sobretudo não sabia compor, e as letras, celebradas por analfabetos, justificavam a celebração de analfabetos. Mesmo pelos baixos padrões da “pop” e pelos baixíssimos padrões da “pop” britânica, aquilo era de uma indigência atroz. Eu gostava. Eu devia ser estúpido. Syd Barrett era clinicamente estúpido, à custa da exagerada ingestão de fungos, e mesmo assim Golden hair, sobre texto de James Joyce, passava, até quando as harmonias acertavam, por uma bonita canção. E She took a long, cold look at me ou Terrapin, se bem me lembro, ouviam-se. Não voltei a ouvir. Há tempos, comprei a edição em CD. Nunca lhe removi o plástico. Talvez o faça hoje, para lembrar o último estertor da puberdade e explorar privadamente a morte do homem. Pena? Apenas que ele tenha partido tarde. Falecera ele em 1965, por exemplo, e o mundo não chegaria a conhecer The Madcap Laughs, uma perda tolerável, nem os Pink Floyd, uma calamidade insuportável, que o primeiro álbum não redime, e cujas consequências o mundo ainda sofre.
Nota: No vídeo, a prova dos efeitos, a longo prazo, dos fungos e das cantilenas de Roger Waters. No áudio, uma das lost tracks de Barrett, recuperada em Opel, o disco, não o carro da Azambuja. Como se pode perceber, lost é o termo.